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terça-feira, 28 de setembro de 2010

A MOÇA E O MAR

Luzes de artifício brilhando,
Luar refletido no mar.
Deixa dormir a tristeza,
Deixa morrer o passado
E olha nos olhos da moça,
Tão cheios de espera e amanhã.

Deixa dançar sobre as águas
As múltiplas luzes da noite
E olha no rosto da moça
Um canto de pura esperança.

Olha no corpo moreno
A cor e o calor do desejo.
Olha no riso sereno
Um ar de quem se quer dar.

Pisa teus pés no presente,
Joga teus olhos no mar.
Toma essas mãos dessa moça
E vê um novo tempo brotar.

2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

TEMPO DE TRISTEZA

Em noite profunda de inverno,
Sem música, estrelas, luar,
Cantei uma viva esperança,
E era tão diurno meu canto...

Em dia profuso de gente,
Com sol, nuvens alvas, céu claro,
Cantei uma dor que me vinha,
E era tão noturno o meu canto.

O canto é o espelho da alma,
A alma é que diz se as horas
São claras, escuras, cinzentas,
Se o dia pra nós anoitece,
Se a noite pra nós amanhece.

Durante um tempo bem longo,
O escuro invadiu meus momentos,
Me fez as manhãs tão noturnas,
Me fez anoitecer pelos dias,
Numa tristeza fundamente doída,
Mas doída de parecerem os minutos
Derradeiros momentos de vida.

2010

domingo, 26 de setembro de 2010

VEM VIVER

Vem ver dançar a noite
No batuque alegre,
Nos bares lotados,
Na gente a passar.

Vem ver cantar a vida
Na lua gigante,
No céu estrelado
A rebrilhar no mar.

Vem dar-te uma chance
De sorrir-te o mundo,
De gritar no peito
Um amor imenso.

Vem me dar teus olhos
E o teu peito ávido,
Faze de minh'alma
Um valsar sem fim.

2010

OS POETAS DA VIDA

Quando amanhece, e as casas se enfeitam do sol,
Nós, sentinelas da manhã, matutinos poetas,
Contemplamos o dia, na avidez de um tempo feliz.

Quando a tarde acende as ruas e gentes,
Nós, sentinelas da tarde, vespertinos poetas,
Lambemos a tarde, sedentos de plena alegria.

Quando artifícios de luzes acendem a noite,
Nós, sentinelas da noite, noturnos poetas,
Sorvemos a noite, famintos de amor.

E a vida assim segue, ora escura, ora clara,
Dançando ritmos vários, às horas ligados,
Nós, sentinelas da vida, poetas sempre em vigília,
Dançamos todos os ritmos, sequiosos então de viver.

2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A TARDE

Tinha sol, vento fresco, um bocado
De gente passando nas vias.
Tinha a praça, os bancos, arbustos,
A tarde de acesa alegria.

Tinha os carros, os jovens falantes,
As crianças em viva euforia,
O semblante de paz de uma moça
Que levemente sorria.

Tinha o olhar brilhante do jovem
Que em divagações se perdia.
Tinha a luz fulgente do sol,
Que em meu ser reluzia.

Tinha nuvens tão brancas no céu,
O azul o mar parecia.
Eu bem via o relógio da praça,
Mas o tempo não existia.

Era a tade inquieta e bonita,
Que a todo vivente envolvia:
Era vida, era cores, tão clara,
Era um fogo infinito de vida
E ao meu peito por completo acendia.

2010

domingo, 5 de setembro de 2010

PARTIDA

Partiu sozinho e tão tristonho,
E uma melodia de pura melancolia
O acompanhava, teimando em ficar na memória.

Partiu, macambúzio, sem alento.
Tinha um longo caminho a percorrer,
Mas ainda maior era o tamanho da sua agonia.

Partiu. Nenhuma ilusão havia.
Não havia horizonte, expectativa,
E a estrada a seguir era árida e sombria.

Partiu. Não tinha mais sonho nem ânsia.
Não tinha esperança, desejo nem vida.
Andava apenas. Nada mais tinha. Apenas seguia.

2010

VIZIM DE ZÉ CARDOSO

Vem cá, vizim, desce uma pinga, que eu te conto:
Ninguém no mundo é mais feliz que Zé Cardoso.
É que, cedim, toda manhã, beija a menina
De cabelim assim curtim, sorriso franco,
Bonita assim que nem os campo bem verdim.

Aquele beijo mais parece que alimenta Zé Cardoso,
Que prá labuta sai feliz de inté sartá.
Entra a menina a sorrir por casa adentro,
E eu fico oiando as coxa grossa, bem clarim,
E sonho vendo o vestidim a balançar.

O dia inteiro aquela potra lava, passa,
Varre, cozinha e canta assim qual passarim.
É tão bonita com zoim assim pretim,
Tão infantis e serenim, cheim de paz.

De tarde chega Zé Cardoso todo prosa,
E ela se agarra, alegre, moça, ao seu pescoço.
Depois, vizim, é um converseiro sem tamanho.
Um tal de "amor", "benzim" pra lá, "benzim" pra cá,
E a casa, assim, meu bom vizim, parece em festa.

Eu imagino, meu amigo, que à noitinha
O meu vizim é mais feliz que um fazendeiro,
Porque a deusinha, se entregando entre sussurros,
É bem capaz de qualquer cristo endoidecer.
E eu te confesso, sou tão só, que sinto inveja
E uma tristeza grande assim de contorcer.

2010

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