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domingo, 30 de setembro de 2007

O ELEITO

Ah! Meu Deus, meu grande Deus!
Ah! Mas como é bom viver!
Consegui me eleger...
Como valeu o tom ousado,
O discurso decorado,
Fielmente copiado
De um eleito no passado!


A revolta ensaiada,
Minha fala exaltada
Em prol dos pobres famintos
(Sou convincente quando minto)...
Como tudo me valeu!


A grana gasta na campanha
E a gasta agora na champanha
Em dois tempos vou recuperar,
Em três tempos vou multiplicar...
Eu vou me locupletar!


A cabeça do trabalhador
Vou vender sem pena ou dor.
Ah! Vai ser muito cômico:
Pro viril poder econômico,
Que quer gozar até cair,
As pernas do povo vou abrir.


Ah! Quanto porre, quanta "gata"!
Quanta grana e negociata!
Defendi tanto os salários,
Ataquei os empresários...
Tudo chega a ser hilário:
Saio dessa milionário.


O banqueiro que ajudou
Pr'eu chegar aonde estou,
Já me disse: "És grande ator,
És exímio orador.
Fala sempre em tom de fúria
Que te dói essa penúria
Em que vive essa gente,
Que te votará, contente."
Atalhei de peito inchado:
"Sei de cor e salteado
Que o povo é o condenado
Que, inocente amolador,
Do carrasco executor
Sempre afia a espada."

1993

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