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sábado, 27 de maio de 2023

MELANCOLIA III


 Se a tristeza me tocou, tão inclemente,

Como dedasse uma ferida viva em sangue

Bem no meio do mais fundo do meu coração...

Se mergulhei no passado mais distante

E lamentei o que foi e aconteceu

Além de tudo o que não houve ou ocorreu...

Se tanto andei dentro de casa como autômato

E me sentei, deitei, silente como um quadro estático

E tão parado como olhar que fita o longe tão somente...

Se me fiz mudo, quedo, quedo com estátua

Em beco escuro, deserto e enegrecido pelo tempo

E não quis sair pelas tão tristes ruas da cidade...

É que nada, nada pode ter razão alguma,

É que a alma em mim se encheu de sombras

E de um canto triste, melancólico, inaudível, 

E pisei no nada, e adentrei o nada, e o nada é dentro deste apartamento

Que dá vista a tudo o que não há, não é, que não existe,

Não se vê, não se encontra nem vislumbra, não se encontra simplesmente.

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