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sábado, 5 de julho de 2014

VIDA A DOIS


ELA:
Nunca mais tocou a música
que enfeitava nossas horas
de carícias e volúpias
e de juras amorosas.

ELE:
Esse som não dá mais nada,
e a canção já deu no saco.
Onde encontro a calça preta, 
pr'eu sair pra trabalhar?

ELA:
Nunca mais me deu o abraço
ardoroso e matutino
entre frases de doçura, 
entre afagos sensuais.

ELE:
Corro tanto nesta vida
e concorro mais ainda,
que o mercado é tão perverso,
meu patrão, eu nem te conto.

ELA:

Quando chega, nem um beijo,
uma flor ou chocolate.
Nem um verbo de lascívia,
a menor das bulinagens.

ELE:
Ah, que trânsito maldito
com sinais tão numerosos,
com buzinas e fumaça,
cruzamentos tão travados!

ELA:
E a tsunâmi de outros tempos
entre colchas, travesseiros?
Ai, desejos tão de fogo!
Me sentia tão devassa...

ELE:
Eu prometo  noite dessas
me portar como um tarado,
garanhão enlouquecido,
destilar testosterona.

ELA:
Me promete que na sexta
você nada se aborrece
se mamãe dormir conosco,
lá no quarto, co'as crianças.

ELE:
Mas é claro, não me queixo.
Nesse dia jogo à noite
e só volto manhãzinha
do churrasco co'os amigos.

ELA:
Como é bom ser sua esposa!
Sem você este mundo é nada.
ELE:
Só você me faz dos homens
do planeta o mais feliz.



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