Não há não mais beleza matutina,
Não há não mais vontade de cantar,
Não há moça bonita debruçada na janela,
Não há não mais nostalgia nem saudade,
Não há passado porque o ontem nas memórias se apagou.
Não há mais rosas nem jardins, nem jasmineiros,
Não há não mais lugar pra minha lira.
As maritacas viraram pássaros urbanos,
Os gaviões tiveram, então, destino igual,
E os micos hoje são caçados como ratos,
Sem "habitat" e sem abrigo ou belas matas.
Não há não mais o pio "agoureiro" da coruja
A inseminar na mente insana o que é funesto;
Nem há não mais ruas descalças de singela poesia;
Não há não mais lugar pra minha lira,
Se até em meu peito os anseios são de argila,
Se o mundo encheu-se de edifícios suntuosos
Pra cultivar poder, miséria e capital,
Se massacrar, sobreviver é que é o mister,
Se as emoções submergiram no asfalto tão brutal.
2022
Revisto e modificado em 11.02.2023
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