Tinha os meus dezoito, a juventude,
Tinha a minha tristeza descabida
E as calçadas da Penha tão festiva,
Das acesas noites de verão.
Tinha as moças em vestidos diminutos,
Espalhando beleza pelas ruas
E os bares destilando carnavais.
Tinha os meus cinquenta e a viveza,
A poesia irresistível do pecado,
O Severina de Laranjeiras em festa,
Um desejo de viver tão permanente,
Um soltar-me pelas luzes da cidade.
Os sessenta adentrei alegremente,
Fincando os pés na alegria de Araruama,
Degustando um poema ensolarado,
E me enchi de sentimentos coloridos:
Tempo doce de viver, beber e amar.
Mas chegou de repente a pandemia,
E busquei um quieto lugar em Minas,
E, bem antes da entrada nos setenta,
Eu me vi como na casa dos noventa,
Prisioneiro de um tédio melancólico,
E vegeto num pavor inominável
Pois é tempo de clausura, dor e morte.
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