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quinta-feira, 23 de junho de 2022

PRECE LÍRICA N° 2

 Bendita seja a noite fresca

Que é serena como um monge,

Que, qual mãe de amor extremo,

Nos aninha em sua paz.


Bendita seja a tarde alegre

Enfeitada de pessoas

Passeando, tão profusas,

Pelos parques da cidade.


Abençoa, Deus, as línguas

Sequiosas que se enroscam

E a doçura dos amantes

Na conjugação carnal.


Que bendito seja o olhar

Que se emprenha de ternura,

Se desnuda de maldades

E se faz angelical.


Que bendito seja o verbo

Do poeta enamorado,

Salpicando nas estrelas

Sentimentos e emoções.



terça-feira, 14 de junho de 2022

POEMA SEM VERBO


Não, meu poema não é mais canto nem verbo:

Apenas se esconde, silente, num beco escuro da noite fria

E se encolhe e assim permanece, quieto 

E pranteia de um modo abundante, incessante,

Mas sem o menor dos soluços, sem poder ser ouvido.

Chora escondido e volta os olhos ao céus sem estrelas,

E nada busca senão a escuridão mais soturna...

A escuridão mais calada,

Como se nada se visse,

Como se nada se ouvisse,

Como se fosse o nada.

Meu poema é estátua enegrecida no deserto e esquecido jardim.


quinta-feira, 9 de junho de 2022

VAZIO

 Não há no silêncio não mais a cantiga

Que vinha na brisa, nas noites quietas.

Não há o burburinho que vinha tão doce

Dos meus sentimentos pulsando no peito.

É tudo cimento, asfalto e motores,

É tudo fastio, é cansaço e é tédio:

É tudo seguir sem saber o motivo,

É tudo vazio tal como os humanos.

É andar pela vida -- razão não se sabe --,

Andar e seguir, seguir, nada mais.


CRUA DESESPERANÇA

O rosto de seda

Da moça bonita

Não tem poesia,

Nem sol, nem luar:

Não traz fantasia,

Não faz divagar.



Os muro de pedras

Com marcas de musgo

É pedra, só muro:

Não traz a lembrança

Dos beijos e abraços

De antigos casais.



O samba não toca,

A gente não dança,

A luz não se acende,

A rua é deserta:

Não brinca no peito

A menor ilusão.



A praça deserta

Não tem meninada,

Casais se beijando,

Poeta ou cantor:

Nenhuma doçura

Se sente no ar.



Cadê o horizonte?

Que foi do arrebol?

Fecharam-se as casas,

Janelas, portais:

Partiu a esperança, 

Só resta morrer.



  

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