Às vezes,
faço versos como criança
que joga papéis ao vento,
pelo simples prazer de brincar,
pelo gosto singelo de ver
os meus versos apenas a flutuar.
2009
Espaço com a predominância do lirismo e com poemas de amor e paixão, mas com versos acerca de temas diversos, como a questão sócio-política, os tipos vistos nas ruas, o poder, as pessoas e seus sentimentos. Manifestações de inconformismo, de amor aos animais, de amor romântico, de sensualidade, de tristeza, de alegria, de humor, além do olhar sobre as coisas do mundo. Contatos pelo e-mail: baraodamata2@gmail.com
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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Sou um louco: quando vim ao mundo, a medida dos meus sentimentos se espatifou, e tudo se derramou em extrema abundância. Por isto amo sempre demais, odeio sempre demais, desprezo sempre demais, sofro sempre demais. Mesmo quando adoto posturas moderadas, faço-o porque às vezes evitar hostilidades é o melhor caminho, e oculto assim o meu pensamento eternamente radical. Tudo em mim é demasiado, não vim ajustado ao planeta em que vivemos
domingo, 22 de novembro de 2009
AMOR VERDADEIRO
Quero um amor verdadeiro
que cante na noite estrelada,
que brilhe nas noites sem luzes,
que seja intenso, tão belo, profundo
como os versos de amor do Vinícius.
Quero um amor verdadeiro
que assanhe de vida os meus dias,
quero um amor verdadeiro,
tão prenhe de querer e de entrega,
que nos faça uma só criatura.
Quero um amor verdadeiro
que seja imenso e de aço,
inabalável nas tempestades,
que seja uma orquestra de vida
e, invulnerável, se ria da morte.
que cante na noite estrelada,
que brilhe nas noites sem luzes,
que seja intenso, tão belo, profundo
como os versos de amor do Vinícius.
Quero um amor verdadeiro
que assanhe de vida os meus dias,
quero um amor verdadeiro,
tão prenhe de querer e de entrega,
que nos faça uma só criatura.
Quero um amor verdadeiro
que seja imenso e de aço,
inabalável nas tempestades,
que seja uma orquestra de vida
e, invulnerável, se ria da morte.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
SERENATA
Serenata,
o canto
suave
em lamento,
em súplica.
Violão,
acordes
cortantes,
a música,
a voz...
O canto
pedinte,
os sons,
a noite,
a música,
as cordas...
as cordas...!
Acordas
e vês
que tudo foi sonho,
apenas um sonho,
não mais do que um sonho,
mulher tão sozinha...
Debalde
tu tentas
dormir novamente,
viver noutro sonho
a tal serenata
que nunca existiu,
a tal esperança
que sob a janela
jamais te cantou.
2009
o canto
suave
em lamento,
em súplica.
Violão,
acordes
cortantes,
a música,
a voz...
O canto
pedinte,
os sons,
a noite,
a música,
as cordas...
as cordas...!
Acordas
e vês
que tudo foi sonho,
apenas um sonho,
não mais do que um sonho,
mulher tão sozinha...
Debalde
tu tentas
dormir novamente,
viver noutro sonho
a tal serenata
que nunca existiu,
a tal esperança
que sob a janela
jamais te cantou.
2009
CANTA
Canta vibrantemente como guerreiro enfurecido.
Solta a voz com toda a força da alma intensa, ensandecida,
Espalhando milhões de emoções ardentes pelo ar.
Canta, minha cantora... canta com a gana de quem ama,
De quem goza, quem odeia, de quem sofre enormemente.
Canta lindamente como um coral de passarinhos
Num iluminado, colorido, ensolarado amanhecer.
Canta, minha cantora, e me leva em tua voz
A todos os sentimentos que brotarem do teu peito fogueado,
Numa viagem encantada e banhada em delírio
[ e poesia.
2009
Solta a voz com toda a força da alma intensa, ensandecida,
Espalhando milhões de emoções ardentes pelo ar.
Canta, minha cantora... canta com a gana de quem ama,
De quem goza, quem odeia, de quem sofre enormemente.
Canta lindamente como um coral de passarinhos
Num iluminado, colorido, ensolarado amanhecer.
Canta, minha cantora, e me leva em tua voz
A todos os sentimentos que brotarem do teu peito fogueado,
Numa viagem encantada e banhada em delírio
[ e poesia.
2009
terça-feira, 24 de março de 2009
E SE EU FOSSE...?
E se eu fosse o anjo lírico
Que, entre cantos delicados,
Te abraçasse avidamente,
Pra voarmos em quimeras...?
E se eu fosse o anjo louco
Que invadisse teu sobrado,
Te despisse nas escadas
E te amasse no jardim...?
E se eu fosse o aventureiro
Que roubasse-te de súbito,
Pra sairmos mundo afora
E sem dia de voltar...?
Tu então te entregarias?
Tu então te envolverias,
Sendo minha e tão só minha,
Minha assim como meus olhos?
2001
Que, entre cantos delicados,
Te abraçasse avidamente,
Pra voarmos em quimeras...?
E se eu fosse o anjo louco
Que invadisse teu sobrado,
Te despisse nas escadas
E te amasse no jardim...?
E se eu fosse o aventureiro
Que roubasse-te de súbito,
Pra sairmos mundo afora
E sem dia de voltar...?
Tu então te entregarias?
Tu então te envolverias,
Sendo minha e tão só minha,
Minha assim como meus olhos?
2001
A PAIXÃO
A paixão é o imensurável, insuperável, inequiparável êxtase;
É nas narinas o aroma do perfume que envolve, que arrebata, que inebria:
É na língua o gosto do mais sublime néctar,
No sexo o paladar do corpo da morena a fremir num fervor inqualificável.
A paixão é, por si só, o tudo: a chegada, a conquista,
O nada-além-almejar, o nada-além-desejar.
A paixão é delícia, é delírio, é orgasmo, apogeu.
É a beatitude maior, é o mais pecaminoso e mais delicado nirvana.
2006
É nas narinas o aroma do perfume que envolve, que arrebata, que inebria:
É na língua o gosto do mais sublime néctar,
No sexo o paladar do corpo da morena a fremir num fervor inqualificável.
A paixão é, por si só, o tudo: a chegada, a conquista,
O nada-além-almejar, o nada-além-desejar.
A paixão é delícia, é delírio, é orgasmo, apogeu.
É a beatitude maior, é o mais pecaminoso e mais delicado nirvana.
2006
NÃO QUEIRA AINDA A MORTE
Não, não queira ainda a morte:
Ainda existe entardecer,
E a cidade ainda é bonita de se ver.
Não, não queira ainda a morte:
De manhã algum pássaro ainda canta
E ainda nos resta alguma natureza.
Não, não queira ainda a morte;
Vez por outra algum olhar concupiscente
Ainda pousa nos seus olhos longamente.
Não, não queira ainda a morte:
Ainda há distâncias para viajar
E talvez algum caminho a seguir.
Não, não queira ainda a morte:
O além-horizonte pode ser lugar algo diverso,
Amanhã pode ser dia algo diverso,
Quem sabe?
- Embora eu muito duvide.
Não, não queira ainda a morte.
Ainda existe entardecer,
E a cidade ainda é bonita de se ver.
Não, não queira ainda a morte:
De manhã algum pássaro ainda canta
E ainda nos resta alguma natureza.
Não, não queira ainda a morte;
Vez por outra algum olhar concupiscente
Ainda pousa nos seus olhos longamente.
Não, não queira ainda a morte:
Ainda há distâncias para viajar
E talvez algum caminho a seguir.
Não, não queira ainda a morte:
O além-horizonte pode ser lugar algo diverso,
Amanhã pode ser dia algo diverso,
Quem sabe?
- Embora eu muito duvide.
Não, não queira ainda a morte.
SOLIDÃO
Não, solidão, não te consumas:
Já estou aqui de volta:
Tu és minha, sempre foste,
E eu sou teu eternamente.
Sou tão teu, tão teu completamente,
És tão minha, tão minha inteiramente,
Que a aflição, temor, desassossego
Das paixões a mim sempre trouxeram
Uma saudade de ti tão sem tamanho.
Sim, solidão, sei que és muda e sei que és gélida,
Mas sei também que em ti há paz,
Que há sossego, sem receio, apreensão
Que tampouco existe algum espaço
Para o medo da cruel desilusão.
Sim, solidão, estou eu aqui de volta
Como tu, calado e sozinho nesta casa.
Já maduro, sem enganos, sem quimeras.
Tão sisudo e tão silente como tu,
Mas feliz de certo modo pela paz que tu me trazes.
Eu, sombrio, mas vivendo sossegado,
Eu, tão triste, mas a salvo de ilusões
E sem risco de um tamanho desencanto
Vir ferir-me mortalmente cruel e mortalmente.
Eu, feliz de certo modo por estar
Retornado ao nosso eterno casamento.
II
Toda vez em que uma amada distante parecia,
Te sentia tão por perto e muito minha.
Toda vez em que uma jura insincera me soava,
A tua voz, tão verdadeira, eu sempre ouvia.
Quando um caso de amor tristemente se acabava,
Eras tu, braços abertos, que acolhias
Minha dor nesse teu peito tão gelado.
Aqui estou, solidão, enfim de volta,
Para nunca, solidão, te abandonar.
2005
revisto e modificado em 2012
Já estou aqui de volta:
Tu és minha, sempre foste,
E eu sou teu eternamente.
Sou tão teu, tão teu completamente,
És tão minha, tão minha inteiramente,
Que a aflição, temor, desassossego
Das paixões a mim sempre trouxeram
Uma saudade de ti tão sem tamanho.
Sim, solidão, sei que és muda e sei que és gélida,
Mas sei também que em ti há paz,
Que há sossego, sem receio, apreensão
Que tampouco existe algum espaço
Para o medo da cruel desilusão.
Sim, solidão, estou eu aqui de volta
Como tu, calado e sozinho nesta casa.
Já maduro, sem enganos, sem quimeras.
Tão sisudo e tão silente como tu,
Mas feliz de certo modo pela paz que tu me trazes.
Eu, sombrio, mas vivendo sossegado,
Eu, tão triste, mas a salvo de ilusões
E sem risco de um tamanho desencanto
Vir ferir-me mortalmente cruel e mortalmente.
Eu, feliz de certo modo por estar
Retornado ao nosso eterno casamento.
II
Toda vez em que uma amada distante parecia,
Te sentia tão por perto e muito minha.
Toda vez em que uma jura insincera me soava,
A tua voz, tão verdadeira, eu sempre ouvia.
Quando um caso de amor tristemente se acabava,
Eras tu, braços abertos, que acolhias
Minha dor nesse teu peito tão gelado.
Aqui estou, solidão, enfim de volta,
Para nunca, solidão, te abandonar.
2005
revisto e modificado em 2012
ABRIR AS JANELAS
Eu quero abrir minha janela em música,
eu quero abrir minha janela para lançar música no ar
e transbordar a casa da claridade da manhã.
Eu quero me lançar sobre a vida e o luzir do dia,
com a alegria de ave a deixar o cativeiro,
com a paz de anjo a planar no firmamento,
com o deleite de quem goza no corpo da mulher amada.
2003
eu quero abrir minha janela para lançar música no ar
e transbordar a casa da claridade da manhã.
Eu quero me lançar sobre a vida e o luzir do dia,
com a alegria de ave a deixar o cativeiro,
com a paz de anjo a planar no firmamento,
com o deleite de quem goza no corpo da mulher amada.
2003
O SILÊNCIO
O silêncio, mudez total, completa,
atravessa cada cômado,
aquieta a casa inteira,
silêncio tumular, absoluto.
O silêncio de fazer perder o sono
e revirar-se qualquer mortal por toda a noite.
O silêncio, que é calado como a morte,
encontra todavia, com perplexidade imensa,
minha alma ainda mais silenciosa.
O silêncio, a minha alma.
A minha alma, que é sem dor nem rigozijo,
sem sonhos, sem desejos, sem enganos,
que fica imóvel, sem folia e nenhum pranto,
a sorver lentamente esse silêncio.
Minha alma se atou de vez a esse silêncio,
numa comunhão de eterno casamento,
e ambos se fundem e se tornam coisa única:
a minha alma é o próprio silêncio então.
II
Quero apenas a quietude do silêncio,
O semblante inexpressivo do silêncio:
Quero somente o silêncio,
Nada, nada que não seja o silêncio.
2004
atravessa cada cômado,
aquieta a casa inteira,
silêncio tumular, absoluto.
O silêncio de fazer perder o sono
e revirar-se qualquer mortal por toda a noite.
O silêncio, que é calado como a morte,
encontra todavia, com perplexidade imensa,
minha alma ainda mais silenciosa.
O silêncio, a minha alma.
A minha alma, que é sem dor nem rigozijo,
sem sonhos, sem desejos, sem enganos,
que fica imóvel, sem folia e nenhum pranto,
a sorver lentamente esse silêncio.
Minha alma se atou de vez a esse silêncio,
numa comunhão de eterno casamento,
e ambos se fundem e se tornam coisa única:
a minha alma é o próprio silêncio então.
II
Quero apenas a quietude do silêncio,
O semblante inexpressivo do silêncio:
Quero somente o silêncio,
Nada, nada que não seja o silêncio.
2004
OUVIR MÚSICA
Ouvir música é como um transcendente culto.
Quando ouço música, é como se me ligasse estreita, profunda e harmonicamente a Deus.
Mas, se alguém abre a porta e e barulhos entram no cômado,
É como se adentrassem inúmeros demônios
Que me tirassem, sarcásticos, dos braços do Pai Eterno.
2005
Quando ouço música, é como se me ligasse estreita, profunda e harmonicamente a Deus.
Mas, se alguém abre a porta e e barulhos entram no cômado,
É como se adentrassem inúmeros demônios
Que me tirassem, sarcásticos, dos braços do Pai Eterno.
2005
AGUARDA!
Fica quieto, homem açodado!
Ainda nem deu meio-dia,
Ainda não é a hora,
Ainda não é o dia.
Ainda não é o momento
Da glória dos revoltosos,
Ainda não é chegado
O Dia da Rebeldia.
Ainda não é a vez
Do fim da tua agonia:
Conserva a tua esperança,
Espera voltar o Messias.
Ainda estás no estágio
De padecer pelos dias:
Aguarda com paciência
Chegar a fada-madrinha.
Espera só três milênios,
E os homens serão mais justos.
Aguarda uma linda rainha
Chamar-te para uma orgia.
Homem precipitado,
Espera que ao menos se cumpram
As bíblicas profecias.
Não percas as esperanças
Da vinda do teu triunfo,
Do prêmio por tuas virtudes,
Da tua prosperidade,
Da tua felicidade
E explosão de alegria.
Aguarda com paciência,
Espera resignado:
Ainda não são três horas,
Ainda não deu meio-dia,
Um dia virá o momento,
Um dia, seu apressado!
Um dia, meu caro, um dia.
2007
Ainda nem deu meio-dia,
Ainda não é a hora,
Ainda não é o dia.
Ainda não é o momento
Da glória dos revoltosos,
Ainda não é chegado
O Dia da Rebeldia.
Ainda não é a vez
Do fim da tua agonia:
Conserva a tua esperança,
Espera voltar o Messias.
Ainda estás no estágio
De padecer pelos dias:
Aguarda com paciência
Chegar a fada-madrinha.
Espera só três milênios,
E os homens serão mais justos.
Aguarda uma linda rainha
Chamar-te para uma orgia.
Homem precipitado,
Espera que ao menos se cumpram
As bíblicas profecias.
Não percas as esperanças
Da vinda do teu triunfo,
Do prêmio por tuas virtudes,
Da tua prosperidade,
Da tua felicidade
E explosão de alegria.
Aguarda com paciência,
Espera resignado:
Ainda não são três horas,
Ainda não deu meio-dia,
Um dia virá o momento,
Um dia, seu apressado!
Um dia, meu caro, um dia.
2007
A VIDA
Carros loucos, desembestados, bandidos, tiroteios, guerras,
Aviões caindo, vulcões, tempestades, terremotos,
Quantas crianças, jovens, adultos, velhos,
Pessoas boas, pessoas más, puros bebês, inocentes animais,
Quantos já viste e já soubeste
Tragicamente mortos!
Por que então alguma santa entidade
Viria do céu
Para acudir
E proteger
A ti e aos teus?
Quando não se morre de desastre ou violência,
Ou de fenômeno da natureza,
A doença destrói as criaturas.
Então? Tu te crês mesmo a salvo de tal contexto?
Quem viria te salvar?
Ora, amigo, entende, és mero objeto de caçada
Perseguido pelos carros, balas e moléstias:
Presa que cedo ou tarde, obviamente,
Irá tombar.
Não és nenhum privilegiado,
Nem tampouco os teus o são.
Por mais que rezes,
Por mais que implores,
Tu estás decididamente desprotegido.
A morte é nefasta presença em tudo.
Povos massacram povos por ambição.
Facínoras espalham terror e morte.
Animais precisam matar para sobreviver.
Homens matam animais por troféu e por "gourmet".
A natureza também mata sem hesitação:
Droga! Onde há bondade, compaixão ou justiça?!
O que existe para nos proteger?
Procuras esquecer a morte e te lembras da vida,
Pensas agora em teus amigos.
Aliás, por neles falar,
Quantos deles, dize-me, te amam?
Cogitas, cogitas, não sabes enfim.
Não sabes. Talvez nenhum.
E tua mulher? Será que te ama?
Menos condições tens ainda de responder.
Mas, agora, e tu?
Amas tua mulher e teus amigos?
A pergunta, eu sei, te embaraça,
E vês ainda que não és para eles
Melhor do que eles são para ti.
Agora tu te sentes vazio de sentimentos
Como todos os que te cercam.
Quantas vezes as pessoas foram torpes e más contigo!
Mas quantras vezes foste torpe e mau com as pessoas?
Os políticos são crapulosos,
As autoridades, em geral, são crapulosas, corruptas,
Os poderosos são autoritários.
Mas tu próprio já não foste infame algum dia?
Neste momento te sentes vilão entre os vilões.
Quantas injustiças já sofreste!
Se crês em Deus, não o achas justo.
Mas quantas injustiças já cometeste?
Tu não estás entre as raras pessoas boas e justas,
Tu, mau entre os maus,
Injusto entre os injustos.
Entende, amigo, é a vida,
Não mais que a vida...
A vida, insolente, a te dar na cara uma bofetada
E a te dizer que é tão rude, tão iníqua, tão crua,
Injusta, sórdida, impiedosa,
Sem alma, poesia ou bondade.
É a vida, amigo, que te faz deserto de sentimentos,
Que te faz um homem de mármore,
Que te resseca por dentro.
É a vida, amigo,
Que te faz criatura incrédula,
Que te mata toda beleza,
Que te mata toda esperança.
É a vida, amigo,
Que te faz igualzinho a ela,
Que te faz um ser deformado,
Que te faz cansado do mundo,
Que te faz cansado da vida.
2003
Aviões caindo, vulcões, tempestades, terremotos,
Quantas crianças, jovens, adultos, velhos,
Pessoas boas, pessoas más, puros bebês, inocentes animais,
Quantos já viste e já soubeste
Tragicamente mortos!
Por que então alguma santa entidade
Viria do céu
Para acudir
E proteger
A ti e aos teus?
Quando não se morre de desastre ou violência,
Ou de fenômeno da natureza,
A doença destrói as criaturas.
Então? Tu te crês mesmo a salvo de tal contexto?
Quem viria te salvar?
Ora, amigo, entende, és mero objeto de caçada
Perseguido pelos carros, balas e moléstias:
Presa que cedo ou tarde, obviamente,
Irá tombar.
Não és nenhum privilegiado,
Nem tampouco os teus o são.
Por mais que rezes,
Por mais que implores,
Tu estás decididamente desprotegido.
A morte é nefasta presença em tudo.
Povos massacram povos por ambição.
Facínoras espalham terror e morte.
Animais precisam matar para sobreviver.
Homens matam animais por troféu e por "gourmet".
A natureza também mata sem hesitação:
Droga! Onde há bondade, compaixão ou justiça?!
O que existe para nos proteger?
Procuras esquecer a morte e te lembras da vida,
Pensas agora em teus amigos.
Aliás, por neles falar,
Quantos deles, dize-me, te amam?
Cogitas, cogitas, não sabes enfim.
Não sabes. Talvez nenhum.
E tua mulher? Será que te ama?
Menos condições tens ainda de responder.
Mas, agora, e tu?
Amas tua mulher e teus amigos?
A pergunta, eu sei, te embaraça,
E vês ainda que não és para eles
Melhor do que eles são para ti.
Agora tu te sentes vazio de sentimentos
Como todos os que te cercam.
Quantas vezes as pessoas foram torpes e más contigo!
Mas quantras vezes foste torpe e mau com as pessoas?
Os políticos são crapulosos,
As autoridades, em geral, são crapulosas, corruptas,
Os poderosos são autoritários.
Mas tu próprio já não foste infame algum dia?
Neste momento te sentes vilão entre os vilões.
Quantas injustiças já sofreste!
Se crês em Deus, não o achas justo.
Mas quantas injustiças já cometeste?
Tu não estás entre as raras pessoas boas e justas,
Tu, mau entre os maus,
Injusto entre os injustos.
Entende, amigo, é a vida,
Não mais que a vida...
A vida, insolente, a te dar na cara uma bofetada
E a te dizer que é tão rude, tão iníqua, tão crua,
Injusta, sórdida, impiedosa,
Sem alma, poesia ou bondade.
É a vida, amigo, que te faz deserto de sentimentos,
Que te faz um homem de mármore,
Que te resseca por dentro.
É a vida, amigo,
Que te faz criatura incrédula,
Que te mata toda beleza,
Que te mata toda esperança.
É a vida, amigo,
Que te faz igualzinho a ela,
Que te faz um ser deformado,
Que te faz cansado do mundo,
Que te faz cansado da vida.
2003
VERSOS COM MENÇÕES AO POETA VAGABUNDO
SATURE-SE DA FIGURA DO POETA VAGABUNDO E DA PRÓPRIA EXPRESSÃO EM SI, ALÉM DA FARTA REPETIÇÃO DE IMAGENS E CENÁRIOS QUE O ENVOLVEM
O poeta vagabundo:
Vagabundo por repudiar trabalho
E também por ser um bardo dos chinfrins,
Já poeta porque inventa frases líricas,
Porque toca, sofre e canta ao violão.
Homenzinho insano, incomum, parece doido,
Já criou costume de parar no tempo
E também no espaço, pra fitar estrelas;
Divagando tanto, ousando fantasias
Que não vi neste mundo nenhum louco acalentar.
Comove-se co'a musa que adentra o bar,
Achega-se a ela e lhe diz galanteios
Com olhos luzentes e tão fascinados,
Que mais parece menino apaixonado.
Quando solitário, acomoda-se à mesa
E consome-se em porre pela morena
Que há bem pouco tempo o deixou
E a linda mulata que o já encantou.
Esse vagabundo, na rua lotada,
É apenas um ser sozinho e tão errante
Que para de repente e faz novamente
Que pare o tempo só pr'ele contemplar
O céu azulzinho do dia de sol.
Esse coisa-à-toa caminha perdido,
Soturno e sem rumo na rua deserta
Quando sua alma é sombria, escura, sem luz.
Despojado, informal, parece esses anjos
Desgarrados dos outros, que ficam bebendo
Nos bares alegres, em vez de ir pro Céu.
Incapaz de acatar, não sabe dar ordens.
Parece um cão solto deitado nas ruas:
Lírico e livre, o que mais ele lembra?
Talvez as cigarras, talvez borboleta, talvez os pardais.
II
(CIDADE SEM ALMA)
Que Rio emprestaria
Um poeta vagabundo,
Livre, avesso ao trabalho,
Pr'eu fazer uma canção?
Onde eu encontraria
Uma bela libertina
A aceitar propostas lúbricas,
A beber num botequim?
Onde o Rio acharia
Um malandro zombeteiro,
Imbatível na sinuca,
Dedilhando um violão?
Que birosca mostraria
Um amante abandonado,
Só, tristonho, embriagado,
A chorar de dor de amor?
Em que bar eu viveria
Bebedores animados
A cantar Tom e Vinícius,
A falar de Bossa Nova?
Nos romances, devaneios,
Nas canções que ouço do rádio,
Nas imagens de outras décadas
Que eu só vejo na tevê.
Rio insosso, tão sem graça,
Com seus bares burocráticos
De "menu" sofisticado
E ambiente de escritório.
Zona Sul e Centro belos,
Os mais belos dos infernos,
Com seu trânsito empacado
E as buzinas estridentes.
Violência organizada,
O subúrbio amarrotado
E essa ausência de alegria,
Essa susência de tristeza.
Esse Rio que não canta,
Que não ama, que não chora ,
É assim como um autômato,
Desconhece a poesia.
II - II
O bar onde eu bebia estampava um imenso pôster do Rio antigo
E isso me apertava o peito.
O Insttiuto Oswaldo Cruz contrasta com o panorama feio e desumano da Avenida Brasil,
E isso também me aperta o peito.
Os romances de Machado de Assis apertam meu peito
De saudades. Saudades! Que saudades!
Eu tenho saudades de um tempo que não vi nem vivi!
Eu tenho saudades de um Rio que não conheci!
III
Que poeta vagabundo
Ávido de vida
Chegaria à porta da bodega
Para olhar a lua cheia?
Que poeta desvairado
Pararia no tempo e no espaço
Para ouvir canções amenas
E, depois, tresloucado, versejar?
Que menina enamorada,
No silêncio do seu quarto,
Mexeria nas gavetas
Para ler cartas de amor?
Que velho passaria
O poeta vagabundo:
Vagabundo por repudiar trabalho
E também por ser um bardo dos chinfrins,
Já poeta porque inventa frases líricas,
Porque toca, sofre e canta ao violão.
Homenzinho insano, incomum, parece doido,
Já criou costume de parar no tempo
E também no espaço, pra fitar estrelas;
Divagando tanto, ousando fantasias
Que não vi neste mundo nenhum louco acalentar.
Comove-se co'a musa que adentra o bar,
Achega-se a ela e lhe diz galanteios
Com olhos luzentes e tão fascinados,
Que mais parece menino apaixonado.
Quando solitário, acomoda-se à mesa
E consome-se em porre pela morena
Que há bem pouco tempo o deixou
E a linda mulata que o já encantou.
Esse vagabundo, na rua lotada,
É apenas um ser sozinho e tão errante
Que para de repente e faz novamente
Que pare o tempo só pr'ele contemplar
O céu azulzinho do dia de sol.
Esse coisa-à-toa caminha perdido,
Soturno e sem rumo na rua deserta
Quando sua alma é sombria, escura, sem luz.
Despojado, informal, parece esses anjos
Desgarrados dos outros, que ficam bebendo
Nos bares alegres, em vez de ir pro Céu.
Incapaz de acatar, não sabe dar ordens.
Parece um cão solto deitado nas ruas:
Lírico e livre, o que mais ele lembra?
Talvez as cigarras, talvez borboleta, talvez os pardais.
II
(CIDADE SEM ALMA)
Que Rio emprestaria
Um poeta vagabundo,
Livre, avesso ao trabalho,
Pr'eu fazer uma canção?
Onde eu encontraria
Uma bela libertina
A aceitar propostas lúbricas,
A beber num botequim?
Onde o Rio acharia
Um malandro zombeteiro,
Imbatível na sinuca,
Dedilhando um violão?
Que birosca mostraria
Um amante abandonado,
Só, tristonho, embriagado,
A chorar de dor de amor?
Em que bar eu viveria
Bebedores animados
A cantar Tom e Vinícius,
A falar de Bossa Nova?
Nos romances, devaneios,
Nas canções que ouço do rádio,
Nas imagens de outras décadas
Que eu só vejo na tevê.
Rio insosso, tão sem graça,
Com seus bares burocráticos
De "menu" sofisticado
E ambiente de escritório.
Zona Sul e Centro belos,
Os mais belos dos infernos,
Com seu trânsito empacado
E as buzinas estridentes.
Violência organizada,
O subúrbio amarrotado
E essa ausência de alegria,
Essa susência de tristeza.
Esse Rio que não canta,
Que não ama, que não chora ,
É assim como um autômato,
Desconhece a poesia.
II - II
O bar onde eu bebia estampava um imenso pôster do Rio antigo
E isso me apertava o peito.
O Insttiuto Oswaldo Cruz contrasta com o panorama feio e desumano da Avenida Brasil,
E isso também me aperta o peito.
Os romances de Machado de Assis apertam meu peito
De saudades. Saudades! Que saudades!
Eu tenho saudades de um tempo que não vi nem vivi!
Eu tenho saudades de um Rio que não conheci!
III
Que poeta vagabundo
Ávido de vida
Chegaria à porta da bodega
Para olhar a lua cheia?
Que poeta desvairado
Pararia no tempo e no espaço
Para ouvir canções amenas
E, depois, tresloucado, versejar?
Que menina enamorada,
No silêncio do seu quarto,
Mexeria nas gavetas
Para ler cartas de amor?
Que velho passaria
Tardes mansas nos outonos
Balançando na cadeira,
Numa paz de dahlai lama ?
O poeta não existe,
Está preso, encerrado,
E fechado nestes versos,
Nesta minha fantasia.
A menina é pragmática:
Tem uns cinco namorados
Que não ama e tem um verbo
Tão concreto, que eu me assusto.
E o tal velho na cadeira
Só sossega porque os ossos
Dóem quando em movimento:
Quieto, amarga a existência.
Nenhuma poesia no ar,
Nada de belo há no ar,
Todos parecem não ter sentimentos.
A vida é fria e mecânica,
E nós, seres robotizados,
Com projetos, mas sem sonhos,
Nascidos para, produzindo, cumprir nosso papel no contexto econômico
E depois morrer:
Nós somos assim como as máquinas dos carros.
IV
As metrópoles não têm alma,
O mundo não tem alma:
O mundo é uma vastidão descomunal sem alma.
1996
Balançando na cadeira,
Numa paz de dahlai lama ?
O poeta não existe,
Está preso, encerrado,
E fechado nestes versos,
Nesta minha fantasia.
A menina é pragmática:
Tem uns cinco namorados
Que não ama e tem um verbo
Tão concreto, que eu me assusto.
E o tal velho na cadeira
Só sossega porque os ossos
Dóem quando em movimento:
Quieto, amarga a existência.
Nenhuma poesia no ar,
Nada de belo há no ar,
Todos parecem não ter sentimentos.
A vida é fria e mecânica,
E nós, seres robotizados,
Com projetos, mas sem sonhos,
Nascidos para, produzindo, cumprir nosso papel no contexto econômico
E depois morrer:
Nós somos assim como as máquinas dos carros.
IV
As metrópoles não têm alma,
O mundo não tem alma:
O mundo é uma vastidão descomunal sem alma.
1996
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