Não, solidão, não te consumas:
Já estou aqui de volta:
Tu és minha, sempre foste,
E eu sou teu eternamente.
Sou tão teu, tão teu completamente,
És tão minha, tão minha inteiramente,
Que a aflição, temor, desassossego
Das paixões a mim sempre trouxeram
Uma saudade de ti tão sem tamanho.
Sim, solidão, sei que és muda e sei que és gélida,
Mas sei também que em ti há paz,
Que há sossego, sem receio, apreensão
Que tampouco existe algum espaço
Para o medo da cruel desilusão.
Sim, solidão, estou eu aqui de volta
Como tu, calado e sozinho nesta casa.
Já maduro, sem enganos, sem quimeras.
Tão sisudo e tão silente como tu,
Mas feliz de certo modo pela paz que tu me trazes.
Eu, sombrio, mas vivendo sossegado,
Eu, tão triste, mas a salvo de ilusões
E sem risco de um tamanho desencanto
Vir ferir-me mortalmente cruel e mortalmente.
Eu, feliz de certo modo por estar
Retornado ao nosso eterno casamento.
II
Toda vez em que uma amada distante parecia,
Te sentia tão por perto e muito minha.
Toda vez em que uma jura insincera me soava,
A tua voz, tão verdadeira, eu sempre ouvia.
Quando um caso de amor tristemente se acabava,
Eras tu, braços abertos, que acolhias
Minha dor nesse teu peito tão gelado.
Aqui estou, solidão, enfim de volta,
Para nunca, solidão, te abandonar.
2005
revisto e modificado em 2012
"PÉS NO CHÃO E POESIA" tem esse título porque em primeira análise minha poesia é incrédula, mas reúne poemas que às vezes se antagonizam pelo fato de alguns se pejarem da crueza calcada na realidade dos dias, enquanto outros têm a doçura dos anseios da meninice, além dos que encaram a dureza do cotidiano num protesto contra ela ou mesmo numa linguagem lírica que tenta cobri-la com adorno poético. Acesse meu canal no Youtube: https://youtube.com/@demostenesbaraodamata880?si=l1cgAhBMX48XRGYU
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terça-feira, 24 de março de 2009
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