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domingo, 4 de abril de 2010

DOIDEIRAS DE UM NORDESTINO

Mãe, que coisa doida é essa
mais do que doida
nesta cidade?
Que coisa é esta
mais do que doida
dentro do peito?

Mãe, como apavora
vir à janela,
ver os cadáver
pela favela
e imaginar
que qualquer hora
a gente pode
ser mais um deles.

Mãe, como me assusta
ver a miséria
em todo canto
desta cidade,
como na terra
tão nordestina,
cheia de fome,
onde eu nasci.

Mamãe querida,
entende bem,
vivo com medo,
às vezes penso
umas doideiras:
voltar pro norte.

Voltar pro norte?
Mas como o norte?
Perdi o norte,
também o norte,
que, tão mudado,
é como agora
a terra aqui.

2008

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