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quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

ENCANTAMENTO

  Deita, linda, e abre o corpo

Ao meu corpo como fora

Rosa a abrir-se à estação

Que é das flores e do sol.


Dança, linda, ante meus olhos,

E eu te vejo aos sons de flauta,

Violino e de piano,

De uma harpa angelical.


Vem cantar uma canção

Da lindeza das estrelas,

Dessa lua que te veste

Com seus raios cor de prata.


Vem beijar, que a nossa cama

É um poema doce e leve

Como seda, e é um mundo

Estrelado de nós dois.


Vem falar da poesia

Encantando nossos dias,

Do deleite sem tamanho

Que é vivermos nosso amor.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

PROCISSÕES A SATANÁS


 Ah, medonho pesadelo!

Vi bradar os homens maus,

E eram tantos e tão sórdidos 

Que pensei estar no Inferno.


Festejaram todo o fogo

Ateado em bichos, matas

E se riram da miséria

E das mortes pela peste.


Cultuavam um demônio,

Uma besta abominável,

Que era espelho, era retrato

D'alma podre dos fiéis.


O demônio, destronado,

Vai pairar sobre esta terra,

Um fantasma pavoroso

Ao louvor dos purulentos.


Medo, nojo e ojeriza:

Os clamores por terror

E essas bestas tumorais

Caminhando entre nós.

domingo, 4 de dezembro de 2022

VEM, PAIXÃO!

 

 Vem, paixão, que és pulso, arroubo,

Que és fogacho e ventania,

Vem, paixão, e me arrebata,

Pois bem sei dos céus, infernos

Que contigo irás trazer!


Conquistar Taís no outono

E perdê-la em pleno inverno;

Refazer-me e dar-me a Vera,

Mas partir na primavera;

No verão ter Mara e Sandra,

Que amarei ao mesmo tempo,

Que amarei no mesmo afã.


Vem, paixão, e me arrebata,

Torna a mim alguém sem siso,

E eu viajo em tuas ondas

E me torno um turbilhão.

SE O AMOR ME TOCAR


 Se o amor me tocar como um feitiço,

Abrirei minhas narinas a inspirar os seus aromas

De afeição, de enlevo, de apego e sedução.

Amarei como se fora um trovador,

Flutuarei no Éden, sobre as águas, flores e jardins 


Irei querer promessas de um sentir que nunca finde,

Olhar estrelas e me encher de um verbo delicado

E ouvir da amada coisas ternas e repletas de doçura.

Seremos leves, fogueados, puros como pássaros,

Pois envoltos n'aura linda do mais alto e pleno amor.

terça-feira, 1 de novembro de 2022

NÃO ME DEIXE

 Não me deixe, não, na praça lotada;

Não me deixe, não, a praça deserta;

Não me deixe, não, aqui tão sozinho,

No beco sombrio da minha tristeza.


Não me deixe aqui, tão lasso, sem norte,

Perdido no mundo, vagando pro nada.

Não faça meu mundo silente e noturno,

Cortado de um frio a me arrepiar.

Não deixe que eu fique no inverno soturno:

Você é melodia, alegria e calor.

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

.

 Hoje a luz da esperança acendeu todo o Brasil.  Fiquemos sempre unidos e sigamos  na luta: a felicidade virá.

sábado, 29 de outubro de 2022

ACENDER O DIA


 Não, não tenho a noite inteira,

Não, não tenho o tempo todo:

Vou fazer que nasça o dia. 

Vou correr atrás do sol,

Vou dançar à beira-mar.


Vou deixar que o peito grite

Toda a gana de viver.

Vou cantar um samba alegre,

Vou entrar no bar lotado,

Vou trazer o Carnaval.


Demolir as agonias,

Trucidar qualquer tristeza,

Suprimir a solidão. 

Entregar-me a um sentimento,

Mergulhar na multidão.


Ouvir surdo, ouvir pandeiros,

Na alegria mais vibrante.

Não, não tenho a noite toda,

Não, não tenho a vida inteira:

Vou querer viver e amar.


quinta-feira, 13 de outubro de 2022

AMOR

 

Vou zelar pela manhã

Que há na vida do teu riso,

Nos teus olhos cintilantes.


Salpicar por toda a casa

O perfume do suave

Das palavras de doçura.


Semear em nossos peitos

Um desejo desatado

De cantar por toda a vida.


Construir o nosso mundo

Dos afetos mais sublimes,

Nos nutrindo deste amor.

domingo, 9 de outubro de 2022

NEGROR

 Há uma assombração detrás de cada porta,

Se ocultando nos desvãos e espreitando em cada umbral.

Não são vistas pelos olhos, mas pelo coração ferido.

Não há como correr casa afora,

Se existe um pântano gigantesco e sem vida,

E gemidos que vêm  de ignotos lugares,

No negrume da noite profunda demais.



Há uma assombração detrás de cada porta,

O medo aperta o peito dilacerado,

A respiração vem veloz e descompassada,

E a morte parece se anunciar.



quarta-feira, 14 de setembro de 2022

DUETO DA DESPEDIDA

ELA:

Amor, eu bem sei que não volta,

E a tristeza me sai pelo poros

Como sangue que aflora na pele

Da ferida do meu coração.



ELE:

Amor, sei, nos fundimos num só,

Mas ficou tudo à volta sombrio

E com tantas tempestades e espinhos...

voltarei ao florir do verão.



ELA:

A partida me faz desolada,

Tão sem norte, sem vida e sem chão.

Meu amor, nunca mais você volta,

Fez-me escrava da mortal solidão.



ELE:

Em meu corpo levo o gosto do seu,

As lembranças se ataram a mim

Qual meus pelos, as unhas, as mãos:

Volto quando a primavera chegar.



ELA:

Eu mal sei se haverá primavera,

Se o verão nos virá iluminar.

Sei apenas que a vida é tão breve:

Você nunca, amor, vai voltar.


QUE SILÊNCIO!


Meu Deus, que silêncio

nos becos, esquinas, 

nas ruas, sobrados,

Trazido no vento

das mil fortalezas!



Seria o prelúdio

dos gritos medonhos,

dos breus diminutos

com cheiro de sangue,

ali no porvir?



Seria a antessala

das rédeas, mordaças,

dos olhos fechados,

dos peitos calados,

das mentes vazias?



Será que os demônios

horrendos, ferozes,

com garras agudas...?

Virão, pavorosos, 

os vis canibais?



Meu Deus, que silêncio

que aperta meu peito, 

arregala meus olhos!

Meu corpo tremendo:

meu Deus, que silêncio!


quinta-feira, 1 de setembro de 2022

A CANTORA

A cantora

Cantava como se fosse um arcanjo,

E a sua voz de seda  revolvia os meus sentimentos mais fundos,

E fazia deslizar no meu rosto um fio de lágrima.

Vinham-me à flor da pele as emoções mais doces,

E eu me vi, de súbito, num transe sublime,

Adentrando um céu sereno e suave, levitando entre as  nuvens alvas da paz.

 

terça-feira, 30 de agosto de 2022

MEU LITORAL

 Tinha o lago, o quiosque e o bom vento,

As luzes da cidade nas águas,

Em multicores tão belas!


Tinha vários passantes, casais,

Um pulsar de viveza tão pleno,

Que a mim simplesmente enlevava.


A vida era alegre qual festa

E retumbava em minh'alma

Tal qual tamborins e atabaques.


Não quero mais noites tristes

Nem mais a cidade deserta

Bem qual cemitério gigante.


Não quero não mais ir à roça,

Quero pisar as areias 

E abrir os braços pro mar;


Mirar o azul furioso

Em sua dança fremente

E o lindo dos meus  litorais.


ORAÇÕES DESCABIDAS

 Do que te valeu integrar

O coro adoidado da igreja,

Berrando qual bode louco

E como se Deus fora surdo?


Do que te valeu ver histéricos

Estrebuchando no palco,

No chão se arrastando qual vermes,

E dar tua mão ao pastor?


Do que te valeu ter orado

Com olhos fechados em súplicas,

Enquanto améns proferias,

Glorificando o pastor.


Todo jejum que fizeste

Só te fez fraco e prostrou,

E o voto importante era outro:

Jamais o de castidade.


O brado a soltar era um não,

Jamais profusão de aleluias.

Gritasses pra ter um trabalho

Com justo valor ao suor...

Gritasses ao reinos da terra,

Jamais ao Reino dos Céus.



segunda-feira, 22 de agosto de 2022

VIDA, SONHO E BUSCA


 Sonhei quando a noite era infinda

E o sol vislumbrei no horizonte.

Chorei quando a sede era muita

E os dias jamais floresciam.

Tremi quando vi que o tempo

Passou como fora um cometa,

Deixando-me a estrada tão curta.

Corri quando veio o enfado,

Saindo em busca de vida. 

Caminho por dias tímidos,

Buscando por sóis e por luzes,

Por cores, enlevo e canções.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

VIVENTE MORTO

 

O bar, a música, pessoas, gargalhadas.
Passa o homem tristonho, macambúzio,
Qual robô, por entre as mesas álacres.
Lassidão, a dor, fio de lágrima,
O vazio torturante do abandono
E a dor tão perfurante da traição.


Cambaleia o infeliz, embriagado,
Quer sentar como um mendigo na calçada
E chorar entre soluços, convulsões.


Ah, mas que desejo mais soturno
De tombar ali, sem cor nem vida,
Ou de ao menos cantar melancolias,
De correr, sumir, morar no nada.


Ai, o bar é claro e iluminado
E é contudo sombrio e tão escuro.
Tanta gente, conversas pelas mesas
E um deserto e quietude sepulcral.


Toca um samba tão bonito, tão sonoro,
E o silêncio é de à alma torturar.
A alegria toma conta do ambiente,
Mas não toca jamais aquele homem,
Cuja alma se encontra tão distante,
Num lugar onde a vida não tem vez.









A MEL E RAPOSA

 Que minhas mãos de afago puro
Sobre suas cabecinhas inocentes
Se façam a magia a guardá-las,
Protegê-las dos males do mundo.
Meu olhar de amor contenha o feitiço
De lhes dar todo, todo bem do universo.
Meu amor imenso seja o deus poderoso
A fazer que seus dias sejam sempre felizes,
Paraíso merecido por todo animal.

VIVER POR VIVER

 Missão alguma senão aquelas que me dei
Por amor, por entrega e os princípios que nutro.
Nenhuma entidade me sussurra ou dá rumo.
 A solidão, grande, obesa, inflada, gigante,
Expande-se e ocupa cada palmo da casa.
Que solidão -- me pergunto e replico
--Se as cadelinhas dividem cada espaço comigo?
A solidão, me respondo, do espírito árido e boca trancada
A fazer-se masmorra, calabouço do verbo
Pejado dos ódios, de dor, desprezo e descrença.
Não busco n'alguma mulher uma cúmplice,
Se a alma incrédula não quer mais confiar.


Nenhuma missão além das cachorras.
Às vezes desejo deixar-me morrer,
Assim como eu fosse criatura de areia,
E o vento me viesse desfazer, diluir.
Deixar as cadelas a um herdeiro bondoso?
Por que morrer, entretanto?
Por fastio, desengano, por tédio?
Morrer ou varar noites brancas na esbórnia,
Velho etilista, tardio notívago,
Veterano boêmio entre mesas de bar?


Se  dúvidas chegam, não busco por norte:
Qual homem tem luz pra saber seu caminho?
Pois nós, vis humanos, jamais somos sábios,
Ou então não teríamos deploráveis deslizes.


Sem ser aclarado, vou pisando somente
Os chãos dos meus dias, vivendo os momentos,
Sem buscar pão da vida ou sentido qualquer
Pra vagar pelo mundo, existir tão somente.



sábado, 16 de julho de 2022

A ILHA

 Existe uma ilha no Atlântico,

Onde o mar verde arrebenta

E só se desnuda quem quer:

Ali o nudismo é careta.


Na ilha ninguém tem par --

Só se o amor bater forte.

A deusa que ali se louva

É a deusa libertinagem.


Pra saciar Madalena

É necessário uma fila.

Lista de amantes do Saulo

É da grossura da Bíblia.


Não é uma regra andar louco,

Só quem deseja que pira.

Não há sistema ou trabalho:

Lá só se vive de brisa.


Se vem chegando a tristeza,

A poesia afugenta.

Todos bem sabem que a lira

Não necessita ser triste.


Ilha de pura paixão,

Da juventude à velhice;

Jorge José ama seis,

Ana Maria ama vinte.


Ninguém concorre ou compete,

Todos se irmanam profundo.

O ódio por lá não existe,

Só puro amor é o que impera.


Lá não se mata nem caça,

Comendo-se aquilo que a terra

Dá, faz brotar e ser fruto:

Martírio é pecado mortal.


Ilha formada do nada,

Vinda de um sonho tão claro

De um poetinha sem regras,

Com alma tão libertária...

quinta-feira, 14 de julho de 2022

O SAGRADO E O SATÂNICO

 

 Hipócrita é o ser humano,

Nocivo é o ser humano,

Pois sempre louvando o sagrado,

Mas sempre amando o satânico


Satânico é gerar a pobreza,

Satânico é encorpar a miséria,

Matar ou ferir a carne

Ou alma de seres viventes.


Que existe de mais sagrado

Que uma existência condigna?

Que existe de mais sagrado

Que o bem-viver dos teus filhos?


Que existe de mais sagrado

Do que o momento em que chegas

E que te aninhas no quarto,

Entregue de todo à paz?


Que existe de mais sagrado

Do que o momento em que paras

Pr'ouvir cantigas bonitas

E te emprenhar de emoções?


Que existe de mais sagrado

Que entrar na mulher tão querida,

Sentir vibrar o seu corpo

E um deleite descomunal?



Que existe de mais sagrado

Que o colo, a mãe e a criança,

Do que a ternura nos olhos,

Do que transbordar em paixão?


2022

Revisto e modificado em 11.02.2023





quarta-feira, 13 de julho de 2022

A MORTE DA POESIA IV


Não há não mais beleza matutina,

Não há não mais vontade de cantar,

Não há moça bonita debruçada na janela,

Não há não mais nostalgia nem saudade,

Não há passado porque o ontem nas memórias se apagou.


Não há  mais rosas nem jardins, nem jasmineiros,

Não há não mais lugar pra minha lira.

As maritacas viraram pássaros urbanos,

Os gaviões tiveram, então, destino igual,

E os micos hoje são caçados como ratos,

Sem "habitat" e sem abrigo ou belas matas.



Não há não mais o pio "agoureiro" da coruja

A inseminar na mente insana o que é funesto;

Nem há não mais ruas descalças de singela poesia;

Não há não mais lugar pra minha lira,

Se até em meu peito os anseios são de argila,

Se o mundo encheu-se de edifícios suntuosos

Pra cultivar poder, miséria e capital,

Se massacrar, sobreviver é que é o mister,

Se as emoções submergiram no asfalto tão brutal.


2022

Revisto e modificado em 11.02.2023







sexta-feira, 1 de julho de 2022

A MORTE DA POESIA III


 Não há mais dança de roda ou ciranda,

Não há mais bela moça a sonhar a varanda,

Nem mais há casais contando as estrelas,

Seresteiro nenhum cantando ao luar.



Não há mais poesia no mundo,

Não há mais poesia em meu mundo:

Meus anseios são todos de ferro,

Concreto, cascalho, pvc, pó de pedra.



O tempo foi duro, cimentou-me as quimeras,

Cobriu de azulejos meus campos de lira,

Tornou sons de draga as mais belas cantigas,

Secou a nascente da minha emoção.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

PRECE LÍRICA N° 2

 Bendita seja a noite fresca

Que é serena como um monge,

Que, qual mãe de amor extremo,

Nos aninha em sua paz.


Bendita seja a tarde alegre

Enfeitada de pessoas

Passeando, tão profusas,

Pelos parques da cidade.


Abençoa, Deus, as línguas

Sequiosas que se enroscam

E a doçura dos amantes

Na conjugação carnal.


Que bendito seja o olhar

Que se emprenha de ternura,

Se desnuda de maldades

E se faz angelical.


Que bendito seja o verbo

Do poeta enamorado,

Salpicando nas estrelas

Sentimentos e emoções.



terça-feira, 14 de junho de 2022

POEMA SEM VERBO


Não, meu poema não é mais canto nem verbo:

Apenas se esconde, silente, num beco escuro da noite fria

E se encolhe e assim permanece, quieto 

E pranteia de um modo abundante, incessante,

Mas sem o menor dos soluços, sem poder ser ouvido.

Chora escondido e volta os olhos ao céus sem estrelas,

E nada busca senão a escuridão mais soturna...

A escuridão mais calada,

Como se nada se visse,

Como se nada se ouvisse,

Como se fosse o nada.

Meu poema é estátua enegrecida no deserto e esquecido jardim.


quinta-feira, 9 de junho de 2022

VAZIO

 Não há no silêncio não mais a cantiga

Que vinha na brisa, nas noites quietas.

Não há o burburinho que vinha tão doce

Dos meus sentimentos pulsando no peito.

É tudo cimento, asfalto e motores,

É tudo fastio, é cansaço e é tédio:

É tudo seguir sem saber o motivo,

É tudo vazio tal como os humanos.

É andar pela vida -- razão não se sabe --,

Andar e seguir, seguir, nada mais.


CRUA DESESPERANÇA

O rosto de seda

Da moça bonita

Não tem poesia,

Nem sol, nem luar:

Não traz fantasia,

Não faz divagar.



Os muro de pedras

Com marcas de musgo

É pedra, só muro:

Não traz a lembrança

Dos beijos e abraços

De antigos casais.



O samba não toca,

A gente não dança,

A luz não se acende,

A rua é deserta:

Não brinca no peito

A menor ilusão.



A praça deserta

Não tem meninada,

Casais se beijando,

Poeta ou cantor:

Nenhuma doçura

Se sente no ar.



Cadê o horizonte?

Que foi do arrebol?

Fecharam-se as casas,

Janelas, portais:

Partiu a esperança, 

Só resta morrer.



  

domingo, 29 de maio de 2022

NÃO VENHA


Não, não venha, não chegue, não me surja,

Não me cante no peito qual viola ao arrebol,

Não se achegue com o samba, a rumba e a viveza,

A alegria luminosa que se estampa nos seus olhos:

Vou ficar calado e quieto em meu inverno, 

Meu incessante e perene odor de outono:

Eu não saberia, não, viver a sua primavera,

Muito menos tentaria cantar o seu verão.

sexta-feira, 27 de maio de 2022

VIVER PAIXÃO


 Sorver da lira do teu olhar adocicado,

Abrir a janela para um céu de pura poesia,

Mostrar estrelas onde sequer elas existam,

Deixar no peito cantar o sentimento mais suave e mais bonito.



Viver o enlevo dos rostos em resvalos

E das línguas agitadas numa sede enlouquecida,

Deixar entrar na alma uma música inaudita

Da lindeza dos momentos mais sagrados da paixão.



Tornar-me brisa, sol, braseiro, mansidão,

Nós dois, puros, maviosos, fogueados, sonhadores:

Ah, o encantamento a nos emanar de cada poro,

O amor, qual aura imensurável, luzindo em fachos vários,

Inumeráveis fachos da claridade das emoções

VERSOS DE ESCURIDÃO

Hoje não há tarde e gente alegre nas calçadas,

Mas somente o último bêbado à última mesa

Do último bar da rua derradeira

E uma atmosfera de fim de tudo e despedida.



Hoje os pássaros se aquietaram nos seus ninhos,

E um vento fino resvala nos galhos dos arbustos, 

E um silêncio arrepiante se abateu sobre as paisagens,

E a noite veio, calada, muda, imóvel como fora sepulcral 



Hoje os sinos não repicaram nas igrejas,

Nem tampouco houve canto gregoriano ou ladainha;

Não havia fiéis em suplicantes orações,

E as praças eram desertas como vida não houvera.

Hoje é tudo adeus, final, deserto, silêncio e escuridão.

sexta-feira, 6 de maio de 2022

SE A POESIA VIER

Se um poema vier no vento 

E se traduzir na noite clara e estrelada

E nas luzes de artifício das praças e das ruas,

Que cantigas luminosas encherão teu peito ávido,

Que esperanças te virão à alma sempre atenta

A cada uma das nuances dos dias e da estrada em que caminhas?


Se a canção vier na noite,

Na penumbra, no silêncio

E entrar pela janela como o sonho mais bonito de se ter?


Se a lira alegre passear pelas calçadas,

Pelos bares, pelos becos e fachadas

E adentrar a tua sala e o teu quarto tão quieto,

Percorrer a casa inteira como a brisa em voo leve,

Que emoções retumbarão como atabaque e tamborins

Dentro do teu tão irrequieto coração?


PECADO CELESTIAL

O vinho, a música,

Corpos desnudos,

Noite, o luar.

Amai, ó Deus, os filhos vossos

Que se dão numa volúpia sem igual!


Os seios, nádegas,

O falo, a vulva,

Esse impudor.

Louvai, ó Deus, os vossos seres

Que se entregam num furor descomunal!


Os cheiros lúbricos

Por todo o quarto,

Juras febris.

Ó Deus, afaga os pecadores

A devorar-se num ardor transcendental!


São dois amantes

Tão fogueados,

Tão infiéis.

Notai, ó Deus, a poesia incandescente

Desse amor tão magnífico e carnal!


As línguas ávidas,

Cabelos longos

No travesseiro.

Louvai, ó Deus, toda luxúria

E abençoai esse pecado tão celestial!


terça-feira, 3 de maio de 2022

POEMA A CÁSSIA ELLER

 O que dizer de ti e de tua arte [tão plena e grandiosa, 

Da tua catarse sobre os palcos [que pisavas?

Cantavas com a gana insana de [animal enfurecido

De leão ferido, acuado, mas a [lutar, determinado,

E soltavas na voz as aflições, as [dores e as revoltas

Em urros melodiosos que [embriagavam as multidões.


Nem só de gritos musicais se fez [teu canto:

Tantas vezes foste doce, menina, [branda, apaixonada

A destilar uma suavidade só [encontrada nas heroínas [romanescas: 

Vertias o amor puro e palpitante, [tão imenso em tua alma.


Tão bela num estereótipo que [buscava o masculino, 

Mas que deixava transparecer a [poesia só flagrante nas mulheres.

Que inspiração divina te fez tão [cheia d'alma e tão diversa

Como se Deus te houvera feito de [tudo quanto existe no universo.


Ficam na gente saudades do teu [canto sublime e irreverente

E das loucuras com que marcaste [cada palco que pisaste.

Deus, se existira, te diria numa [ternura paternal e acolhedora:

"Vem, fica comigo, menina doce, [irreverente e tão intensa:

Tua presença faz o Céu mais [bonito, colorido e mais feliz.


segunda-feira, 11 de abril de 2022

O DIA DO TÉDIO

 Deixe quietas as clarinetas, [violinos e oboés!

Nem olhe breve o pandeiro, a cuíca e o tamborim!

Largue a guitarra, o teclado e a [bateria!

Hoje não tem samba, não tem [rock nem orquestra,

Mas somente o tédio tomando [conta da cidade

E pintando as ruas do cinzento [da insipidez dos transeuntes.

SEGUIR

 Que venham os clamores da [minha alma irrequieta

E se diluam nas notas mortas do [coração entristecido

E o quase inaudível canto da [esperança tão raquítica;

Que o sol de mim se mostre [pálido e quase ausente

E as cores minhas sejam [simplesmente desbotadas,

Que fale em brados minha [descrença petrificada...

Mas irei seguir o meu caminho [acinzentado

Sem a melancolia que outrora [enchia a alma de lassidão.



sábado, 2 de abril de 2022

SOFIA

Sempre irei amar Sofia,

que pensei que estava em Sara,

que jurei que achara em Mara,

que ausentou-se de Nancy.


Tinha o rosto de veludo

um semblante quase triste,

tinhas as mãos macias, pálidas,

o olhar cheio de querer.


Passeava nos regatos

e se dava sobre a relva,

levitava como fada,

no lirismo de nós dois.


Quando a tinha nos meus braços,

era Tânia que se dava,

era Selma que gozava,

era Nara que gemia.


Mas Sofia, se existisse,

me diria docemente:

"Vem, meu velho, deita e dorme,

vê se para de sonhar.


quarta-feira, 16 de março de 2022

OSTRA

 Sou tão bela e me comprazo de me ver

No espelho e de sorrir como menina,

E, às vezes, sob as águas do chuveiro,

Fico a tocar meu corpo como um médico

E me deleito da tumidez das minhas formas.


Há dias em que toco-me qual fora

Afrodite entre volúpias com Apolo.

Estive em camas em que ardi, plena de frêmitos,

Senti prazeres que não sei nem descrever.


Mas, dos braços que com gana me apertaram,

Foram raros os braços de ternura:

Quase sempre fui fêmea, não mulher.


A solidão é como medo em noite escura,

Mas aos homens que me querem fecho os olhos.

Sem que pense no adiante em minha estrada,

Agora tranco-me como sigilo absoluto,

Como segredo que é sacrilégio revelar.


Se uns olhos ternos adentrarem os meus olhos,

Se braços fortes me apertarem, afetuosos,

Eu me darei tal como flor se entrega ao vento,

Mas ora fecho-me como animal quando se entoca

E me recluo num casulo qual crisálida,

Tal como ostra na concha a se encerrar.


terça-feira, 4 de janeiro de 2022

VIDA QUE QUERO

Não quero o medo, o tédio e essa tristeza

Desta rua tão sem-vida que eu habito;

Quero a noite clara, dançarina e colorida,

A feliz perplexidade do amante apaixonado

Ante o súbito e sentido eu-te-amo inesperado.


Quero amar com um brilho no olhar indisfarçável

E nos olhos da amada notar a mesma luz,

Na comunhão de sentimentos dos amantes romanescos.


Quero a paz das águas calmas em marolas

E a alegria de crianças brincando nos quintais,

E a poesia de uma canção que envolva a noite

E que comova os jovens, velhos, lúcidos, ,insanos e os casais. 

ALMA CARIOCA (ODE ÀS PRAIAS)

 Quando novamente eu vir o mar,

Minha alma dançará como um passista,

Brincará, feliz como um moleque,

Cantará, intensa e ardente qual Bethânia,

Rebentará numa emoção sem ter igual.


Quero ver vibrar Copacabana

E o sol pintar a areia de dourado,

Rebrilhar nas águas verdes, cintilante;

Contemplar o céu a se deitar nas águas,

Quando os olhos se voltarem pro horizonte.



Quero a viveza das pessoas caminhando

Pelas ruas, num poema iluminado;

Ver mulheres convertidas em sereias,

Bronzeando ao calor suas lindezas.



Quero os bares numa alegria esfuziante

E o desfile das prostitutas nas calçadas.

Abençoai, meu Deus, as prostitutas,

Lutadoras sem respeito, sem direitos, sem ternura!



Deixei longe, por demais distante o Rio,

Vim pra Minas e jurei não ter saudades,

Coração, porém, pulsou tão incessante

Pela terra tão festiva onde nasci.



Quando novamente eu vir o mar,

Minha alma se dará tão plenamente,

Pois, bem sei agora, cheira a praia,

Cheira a Copa, Cabo Frio, a Saquarema,

Aos quiosques alegres e praianos

E aos subúrbios sem praia onde vivi.

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