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sábado, 6 de março de 2010

NOITE DESERTA

Na noite de surpreendente chuva as ruas se fizeram desertas
                                        [subitamente.
Poucas vivas almas circulam, fugidias e apressadas,
e o meu peito, ávido de vida, teve de guardar dentro de si
uma ebulição da imensidade de uma gigantesca cachoeira.

Eu queria ir às ruas e buscar a vida, mergulhar na vida
com a voracidade sem virtude dos inveterados pecadores.

Queria que Dionísio cantasse com sua voz licenciosa
os louvores mais sonoros às orgias desmedidas.

Queria que as ninfas formassem um coral febril, luxuriante,
e, lascivas, dançassem e se despissem entre cantigas sensuais.
Que se entregassem sobre mesas de bodegas
a nós, homens, caçadores de emoções.

Mas as ruas estão desertas, e Dioníso dorme no Olimpo,
talvez em ressaca e no recesso de um dia de pecado.
As ninfas devem estar adormecidas nas matas, bêbadas e nuas,
ressonando no cansaço de horas mortas de esbórnia e de risadas.

O meu peito faz que está calado, mas dentro dele há o enorme estrondo
da queda das águas densas sobre o rio caudaloso.
Tão silente a noite, e minh'alma sequiosa de vida, transgressão e liberdade,
de cores e de brilhos, dança, de aventuras e de risos,
vai-se pouco a pouco acinzentando, até se enegrecer tal como a noite
e também se entristecer, se aquietar e, frustrada, também silenciar,


2010

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