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sábado, 6 de março de 2010

NADA MAIS

Meu canino amado, sinto pelos teus olhos
e pelo teu resquício de ânimo, que já se está esvaindo,
que muito em breve tu me deixarás;
E a tristeza se bate sobre mim,
E traz como contrapeso este meu insano inconformismo.
Inconformismo, amado, pelo fato de, mesmo após os cinqüenta,
Não ter eu ainda alcançado crer na existência de uma alma perene
Que, invulnerável, resista à morte,
E porque exatamente esta descrença me deixará sem um alento quando te ausentares.

Lembro-me de quando te resgatei das sarjetas.
Não tinha um lugar para ti e por isto te deixei em casa de outrem,
Alguém que te batizou de Lobo, mas nunca te chamava,
Mas vivia chamando pelo nome do maltês da vizinha,
E tu, coitado, atendias, achando que te chamavas Snoopy.
Quando vieste então para minha companhia, tive então de te renomear: Snoopy.

Superaste a indigência e a indiferença, além de dois cânceres que te acometram.
Foste valente, venceste tudo. Tiveste fibra.
Mas agora envelheceste e adoeceste novamente.
E não me pareces, desta vez, pronto a enfrentar coisíssima alguma
Estás combalido e tristonho, frágil, sem garra,
E eu, igualmtente triste, sinto a tristeza impotente me corroer,
Justamente por ter a certeza de que nada posso fazer
Senão, enquanto vives, te abraçar e beijar teus pêlos com a sofreguidão de náufrago
[ agarrado à tábua de salvação,
Nada mais, meu amor,
Nada mais,
Infelizmente,
Meu amor.

2010

Um comentário:

anjosonhos disse...

Doloroso poeta, mas é o espelho
de um coração carregado de amor
aplausos luzentes
saura Izabete

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