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quarta-feira, 31 de março de 2010

CERIMÔNIA

A autoridade tão esperada chegou.
As pessoas se agitaram, aplaudiam,
Sorriam como competetentes prostitutas
Ofertando-se aos homens passantes.

A figura central começou o discurso:
Fala vã em elegante linguagem.
Os olhos dos assistentes brilhantes,
Sorrisos de plástico concordantes.

Aglomerado de gente, roupas de caros tecidos.
Aplausos, reverências, emoções fabricadas,
Garçons circulando, drinques pedantes,
Gente interesseira traçando projetos.

O silêncio tomava conta de mim,
Porém, maior que o silêncio era o desprezo,
O fastio, a náusea, o impaciente tédio.
Saí pelas ruas idolatrando os indigentes
Tão cheios de verdade a se deitar nas calçadas.
Encontrei um cahorro, estalei os dedos,
E o bichinho veio logo buscar um carinho
Das minhas mãos imundas de humano.
Fiquei imaginando uma sociedade diversa,
Que tivesse a elevação moral dos cachorros.


2010

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