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sábado, 8 de setembro de 2007

BRASIL-FOLHETIM

O Brasil parou para ver o último capítulo da novela.


As ruas estavam desertas, os bares permaneceram vazios:
As oito horas mais pareciam alta madrugada:
Era preciso saber quem era o assassino!


Meu Deus(!), não fosse aquele personagem bonzinho!
Que caísse o mundo sobre nossas cabeças, que uma explosão nuclear devastasse todo
[o planeta, mas não fosse jamais o assassino aquele sujeito bonzinho!
Teria cabimento – ora vejam! – ser ele um patife, um sonso?


Mãos que se apertavam, peitos que tremiam, olhos fixos na tela sem um piscar, nem um momento
[ de distração.
A vida corria nas ruas... Aliás, nada havia nas ruas!
Sequer havia ruas e vida: só a tela e a novela existiam.


Brasil de expectativas, Brasil de bolsa de apostas,
De mais de uma centena de milhão de detetives.
As pessoas esquecidas de seus problemas... Problemas?!
Mas que problemas?! Não havia nenhum problema, não havia qualquer pessoa!
Só havia a tela e a novela, só havia a telenovela!


Afinal a revelação bombástica, o Brasil conhece o assassino.
O país já sabe quem é seu bandido, o país já prendeu seu bandido único e é feliz como uma
[criança ante um presente de Natal.
Na tela, os casais se formam, se acertam, se reconciliam,
E o Brasil inteiro sorri naquela felicidade plácida dos que já concretizaram todos os seus projetos.


O Brasil, agora contente, aliviado, sereno,
O Brasil, gigantesco, variado, majestoso,
Reduziu-se então a um folhetim.

1996

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