Que importância tem você no mundo?
Apenas mais um rosto entre tantos rostos,
Apenas mais um passageiro na fila do ponto de ônibus,
Somente alguém na fila do banco,
Somente alguém na fila do Sus.
Se morresse agora, de acidente, de tiro ou de enfarte,
Alguém diria um vago "coitado",
E a vida, indiferente, imediatamente seguiria,
A vida em sua indescritível monotonia.
1996
O DEVOTO
Reservou a manhã bela para a sacra devoção.
Caminhou até a igreja, na humildade de um asceta.
Secundou a ladainha sem um erro nem tropeço
E rezou com o semblante suplicante dos pedintes.
Doou notas à igreja, deu moedas aos mendigos,
Comovido de ir às lágrimas co’a bondade de si próprio.
Venerou a estatueta de uma santa no altar
E sorriu com a certeza de se haver purificado.
Ao deixar a imensa igreja, foi andando pelas ruas;
Sobranceiro, bem sisudo, olhou toda aquela gente
Que não fora a qualquer missa, não se dera a qualquer reza.
Desejou que o Deus Supremo reservasse a todos eles
Os piores infortúnios e o mais fundo dos infernos.
Já em casa, entredentes, dirigiu-se à empregada
Com palavras de aspereza, com severo menosprezo.
Entregou tarefa dura à criança favelada
Que explorava de costume.
Mas beijou a oleogravura de Jesus crucificado.
Mas sabia já de cor as Sagradas Escrituras;
Mas pregava em todo canto a palavra do Senhor:
Era alguém santificado, o mais sublime dentre os homens.
Garantira para si uma vaga lá no Céu.
II
Não há nenhuma dúvida de que as religiões podem modificar a conduta dos homens. Entretanto, e infelizmente, jamais transformarão a sua índole, a sua essência, a sua natureza pejada dos mais lamentáveis defeitos humanos.
1996
O VÍRUS HUMANO
Um vírus se aloja no organismo e depois prolifera.
O homem surge no Planeta e desenfreadamente se multiplica.
O vírus destrói defesas e devasta um ou mais órgãos.
O homem destrói a camada de ozônio e devasta ecossistemas e florestas.
O vírus é de alta endemia e atinge outros corpos.
O homem lança lixo espacial pela galáxia.
O vírus leva o corpo à morte irremediável.
O homem vai levar todo o Universo à destruição.
O carcinoma não tem consciência de que é carcinoma,
O HIV não tem consciência do mal que faz,
Mas o homem, sim, e por isso é pior que ambos.
O homem, câncer dotado de razão,
HIV racional e perverso do Universo.
1997
II
SE EU FOSSE DEUS
Se eu fosse Deus,
Dizimaria da Terra os homens
E deixaria por aqui as outras espécies,
Que viveriam em perfeita harmonia co’as águas,
As plantas, os solos, os ares, as árvores,
Fazendo assim do mundo o céu almejado,
O Céu dos delírios prazerosos dos místicos.
1999
III
A George W.Busch, presidente do Estados Unidos, que rompeu com o Protocolo de Kyoto e declarou que não aceitaria qualquer acordo que impedisse o seu país de devastar o meio-ambiente quando a destruição fosse ao encontro dos interesses econômicos de sua terra. Faço-lhe esta anti-homenagem na esperança de que o mundo o eleja o pior homem do planeta.
03 de abril de 2001
Espaço com a predominância do lirismo e com poemas de amor e paixão, mas com versos acerca de temas diversos, como a questão sócio-política, os tipos vistos nas ruas, o poder, as pessoas e seus sentimentos. Manifestações de inconformismo, de amor aos animais, de amor romântico, de sensualidade, de tristeza, de alegria, de humor, além do olhar sobre as coisas do mundo. Contatos pelo e-mail: baraodamata2@gmail.com
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