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domingo, 30 de setembro de 2007

CANTO AOS HOMENS NO TRABALHO

Os braços dos homens erguem instrumentos:
Pás, enxadas, marretas, picaretas,
Ancinhos, foices, tesourões e talhadeiras.
Os braços morenos erguem ferramentas;
Os braços retintos erguem ferramentas;
Os braços mulatos erguem ferramentas;
Os braços brancos já se amorenaram.


O sol é perverso como torturasse;
Os corpos suados brilham sob o sol perverso;
Os corpos reluzem no dia infernal de quente.


Em algumas mentes brincam sonhos;
Em algumas mentes, rostos de amadas;
Em algumas mentes, nada mais que o dia-a-dia
-- Com sua rudeza, com sua crueza – e o medo do amanhã.


De algumas bocas ouvem-se canções;
De algumas bocas ouvem-se galhofas;
De algumas bocas ouvem-se queixumes;
E de outras bocas, nada mais que histórias,
E de ainda outras, doces ilusões.


Os corpos suados, o sol implacável.
Ferramentas sobre a terra, baque surdo soa;
Ferramentas ao cimento, baque seco soa;
Ferramentas sobre o ferro, soa som metálico.


Ferramentas, homens, músculos, suor.
São os homens no trabalho, pro trabalho,
Do trabalho, são os homens num poema
De poeira, sol e terra, de cimento,
Ferro e pedra, braços fortes, sem lirismo,
Mas que canta desse jeito a própria vida.

1994

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