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domingo, 30 de setembro de 2007

A NAMORADA DO BANDIDO


O meu homem é um cavaleiro andante
Audaz, afoito,
Herói que empunha AR-15
Nas mãos seguras
Que tantas mortes já provocaram.

Não é o chefão aqui do morro,
Mas quase isso,
E, orgulhosa,
Eu desfilo meus ares de primeira-dama
Por estes becos,
Muito embora eu o saiba homem de muitas outras,
Me contentando
Em ser mais uma das suas dezenas
De prediletas.

Promotor de festas, danças, alegrias,
Comendador,
Paladino da luta contra as injustiças,
Meu doce rambo,
Que acolhe, satisfaz e aquieta meus desejos;
Que me sacode nos braços fortes, quando tem raiva
E que me bate;
Mas me comove quando traz presentes caros,
Lindos, mimosos,
Alimentando, superinflando meu narcisismo.

Um dia, eu sei, meu homem tombará desfigurado,
No encerramento
De sua carreira gloriosa e de seus dias
Aqui no mundo.
Aí, eu chorarei como a mais inconsolável das viúvas;
Mas sei que logo
Um outro herói com os mesmos predicados
Me aquecerá
No peito forte
E ganhará meu coração.

 1994


É bom deixar bastante claro que “A NAMORADA DO BANDIDO” não pretende de modo algum glorificar a imagem do traficante de drogas ou do membro do crime organizado, mas focalizar a visão que as moças pobres que se envolvem com tais criminosos têm destes, além da sua quase impossibilidade de livrarem-se da condição de mulheres de delinquentes.
1994

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