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domingo, 30 de setembro de 2007

A MORTE DE TUPÃ

Os deuses da mata agonizam,
aniquilados por gringas missões.
O jeito de viver a vida
é já diferente do de viver na mata.
O olho de ver o mundo
já foi trocado pelo olho impingido
da civilização.


Índio pilotando escavadeira,
tombando a mata,
já nem conhecendo língua de índio.
O Kuarup virando
atração de tevê.


Madakalá posou nua pra revista,
de adereços dourados e batom carmim:
Madakalá erótica,
sofisticada.


Jandaia montou uma termas
e transa com todos
os brancos que chegam:
Jandaia aidética,
sifilítica.


Jakalo já trocou a moto
por outra mais possante
e vive a mil por hora:
Jakalo piloto
malucão!


Paru montou uma boate
que toca o bolero,
o rock, o jazz:
Paru dono das noites
do Xingu.


Yakuí constrói edifícios
com playground, piscina,
com quadra e sauna:
Yakuí construtor,
capitalista.


Mas o Peri virou assaltante,
vive às tocaias,
todo sorrateiro,
com seu trinta-e-oito.
Peri facínora,
meliante.


E o Karuta lê Drummond, Veríssimo,
Machado, Bilac
e os grandes clássicos,
e fala inglês,
francês, espanhol
e mais outras línguas:
Karuta ilustrado,
poliglota.


Os deuses da mata
em pleno ocaso,
as missões de Cristo
fazendo o diabo;
a turma de Brasília
e os poderosos...
essa gente toda
engolindo os deuses,
engolindo os índios
com a voracidade
de bestas famintas.


1989

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