sexta-feira, 17 de maio de 2019

A NOITE EM DUAS FACES

Vejo a noite da janela,
as mulheres caminhando
com seus trajes sedutores.

Eu, já velho, avisto a noite
como à lua tão distante.

Mas eu velho, mas que velho?
Que velhice que me assola?
Tenho pulsos, tenho anseios,
mas idade, não, jamais.

Quero a noite e seus pecados,
nessa noite me atirar.
Porém, sei que a noite é puta,
não a puta que eu respeito, 
por querer ganhar seu pão.

Não, a noite é meliante,
é rameira perigosa,
é sereia e é valquíria,
é uma ninfa tão mortal...

Mas que importa, se ela é ninfa?
Pois com ninfas já vivi.
E livrei-me todavia
do feitiço inebriante
com que as pérfidas satânicas
me enlaçaram nos seus braços.

Mas também a noite pode
ser doçura comovida,
se alguns olhos nos seus entram,
traduzindo acordes brandos
e o vulcão do coração.

Da janela fito a noite,
que é feroz e que é serena,
meretriz afeita ao crime,
que é uma amante apaixonada.

Ai, a noite e suas faces,
qual moeda para apostas.
Ganho ou perco nesse jogo?
Mas que noite a que me espera?