quarta-feira, 14 de setembro de 2022

DUETO DA DESPEDIDA

ELA:

Amor, eu bem sei que não volta,

E a tristeza me sai pelo poros

Como sangue que aflora na pele

Da ferida do meu coração.



ELE:

Amor, sei, nos fundimos num só,

Mas ficou tudo à volta sombrio

E com tantas tempestades e espinhos...

voltarei ao florir do verão.



ELA:

A partida me faz desolada,

Tão sem norte, sem vida e sem chão.

Meu amor, nunca mais você volta,

Fez-me escrava da mortal solidão.



ELE:

Em meu corpo levo o gosto do seu,

As lembranças se ataram a mim

Qual meus pelos, as unhas, as mãos:

Volto quando a primavera chegar.



ELA:

Eu mal sei se haverá primavera,

Se o verão nos virá iluminar.

Sei apenas que a vida é tão breve:

Você nunca, amor, vai voltar.


QUE SILÊNCIO!


Meu Deus, que silêncio

nos becos, esquinas, 

nas ruas, sobrados,

Trazido no vento

das mil fortalezas!



Seria o prelúdio

dos gritos medonhos,

dos breus diminutos

com cheiro de sangue,

ali no porvir?



Seria a antessala

das rédeas, mordaças,

dos olhos fechados,

dos peitos calados,

das mentes vazias?



Será que os demônios

horrendos, ferozes,

com garras agudas...?

Virão, pavorosos, 

os vis canibais?



Meu Deus, que silêncio

que aperta meu peito, 

arregala meus olhos!

Meu corpo tremendo:

meu Deus, que silêncio!


quinta-feira, 1 de setembro de 2022

A CANTORA

A cantora

Cantava como se fosse um arcanjo,

E a sua voz de seda  revolvia os meus sentimentos mais fundos,

E fazia deslizar no meu rosto um fio de lágrima.

Vinham-me à flor da pele as emoções mais doces,

E eu me vi, de súbito, num transe sublime,

Adentrando um céu sereno e suave, levitando entre as  nuvens alvas da paz.