segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

AMOR E POESIA

Quero acordes de viola em amena madrugada;
Quero o amor eternizado numa frase emocionada;
Quero os olhos meigos de menina enamorada
E os afagos dos meus cães tão pueris.

Acordar purificado como praias cristalinas
E colina a se enfeitar da claridade.
Quero amar assim tão grande e docemente
Qual tornado uma energia só de amar.

2011

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

SE A TRISTEZA VIER

Se a tristeza lhe quiser destruir o apego à vida,
Viva como se fosse adolescente novamente,
Como abrisse o peito ao vento e no vento pressentisse
O nascer de um tempo cheio de alegria colorida.
Viva como fosse inda capaz de ter sonhos descabidos
E ante o mundo um olhar  juvenil e tão perplexo...

Viva como se pudesse apaixonar-se loucamente,
Como inda fosse menino a brincar de pés no chão;
Como ainda na iminência da primeira entre as orgias.
Vibre qual diante de uma princesa vulgar ou refinada
A despir-se, decidida a saciar os seus desejos.

Beba e se embriague, esquecendo a esteatose,
Como fosse novamente pura flor da juventude
E se visse cobiçado pelas jovens da boate.

Sinta como um cheiro de poema lhe viesse abrir as ventas
E invadir essa alma queda para dela se apossar,
E fazê-lo desejoso de um amor desmesurado.

Viva como fosse a dura vida uma festa tão somente,
Qual tivesse passarinhos a brincar nas suas mãos,
Qual pudesse pôr no mar os pés todos os dias
E sua alma não sentisse dor jamais.

2011

domingo, 18 de dezembro de 2011

LINDAURA, A FILHA DA TERRA

Lindaura era filha da terrra,
Ou mais, era bicho da terra,
Era coisa da terra, assim como arara,
Assim como as lendas, assim como as onças,
Assim como as antas, jacus, gaviões.

Lindaura, mulher de família,
Colhia castanhas, mãos dadas co'a mata,
Criava seus filhos, amava o marido,
Amava esta vida, na paz mais completa.

Lindaura, porém, jamais esperara,
Que um monte de bestas, com foices e serras,
Com armas em punho e seus olhos de monstro,
Fizesse da mata um paiol de madeira.
Matassem as onças, jacus, gaviões,
Matassem seu homem, roubassem-lhe a terra,
A paz, a alegria, projetos e sonhos.

Lindaura, sem terra e sustento,
Desceu lá do norte, fincou pé no Rio,
Depois das agruras e mil provações
Vividas em tantas cidades distintas,
Depois de ser tudo o que nunca pensara:
Meretriz e mendiga, faxineira também.

Lindaura, hoje em dia, tão longe da terra,
Do lixo das ruas que ganha seu pão.
Tem dores no corpo, saudades doídas,
Dois filhos no crime, um morto de dengue.
Menor de cinquenta, parece tão velha,
Desejos, se tem, são todos de morte,
Se tem esperança, é o rumo do tempo,
Que um dia a irá suprimir deste mundo.

2011

LABIRINTO

Quando te comprimes entre tua infinita tristeza
E as paredes da tua casa cerrada para o mundo...
Quando o rebuliço do mundo tão cheio de fatos e gente e surpresas
Não mais te convida ou te faz curioso...
Quando tudo te parece noite, não a noite dos poetas,
Dos lascivos e dos incorrigíveis boêmios,
Mas a noite deserta e de escuridão cegante,
Produzida pela tua incessante melancolia...
Quando não te parece mais haver desejos,
Projetos, claridade, horizonte ou nascer de outro dia...
Quando te parecem iguais rigorosamente todos os dias...
Que morte desejas do fundo do teu peito dolorido
E temes de forma insana, das brenhas  da tua alma aterrorizada,
Atemorizada diante da morte e da vida ?
Em que labirinto assustador te coloca essa  tristeza?
Como suportas, decifras e conduzes o desejo e o medo da morte
E a tua existência angustiante e tão sem solução?

2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

SUA PRESENÇA

O que move o meu verso a se fazer
Um festejo à vida e meus momentos
É a sua presença em minhas noites,
Suas mãos de seda em minhas mãos.

O que faz as tardes tão alegres,
Mas de rara, de alegria sem igual,
É seu rosto, que é bonito e que é de moça,
Seu semblante ansioso de viver.

Se me trazem as manhãs tantos poemas,
É que tenho sua pele em minhas noites       
E a imagino em meu mundo eternamente,
E a suponho alvorada para sempre,
Um querer-cantar que não tem fim.

2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

AMOR VERDADEIRO II

Venha, adoce o dia do seu verbo meigo,
Sua fala de criar cenários belos
E uma crença num futuro magnífico,
Amanhã repleto enfim de maravilhas.

Venha, abrace-me e aconchegue em seus carinhos,
No seu riso, nos seus braços delicados,
No seu ventre de mulher e seus suores,
No acalanto das palavras ao ouvido.

Venha e diga que a morte nada muda,
Que arderemos numa alcova do outro mundo,
Correremos pelos campos e riachos,
Num amor fogoso, amigo e sem final.

2011

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A RAINHA DAS CANÇÕES

Se eu pudesse traduzir em poesia
O milagre tão sublime em quando cantas,
Eu seria o poeta dileto dos arcanjos,
Pois teu canto é qual paixão, amor, é qual volúpia:
Só se sente num deleite, não se pode descrever.

A beleza do teu canto é leve e pura
É tão simples como flor que desabrocha
E complexa como a oculta ação dos elementos
Que permitem qualquer rosa vicejar.

Se as pessoas fossem justas, de bom senso,
Renderiam homenagens ao teu canto,
Em tão gratas e tão doces reverências:
Saberiam que és rainha das canções.



A Shirley Carvalho, cantora brasileira de talento raro e que, injusta e incompreensivelmente, não está no rol dos cantores mais aclamadosdeste país.
Se você quer conferir,  clique e veja:
http://www.youtube.com/watch?v=5PieXbVhYS4&feature=related

2011