sábado, 4 de maio de 2024

VERSOS DE PORCELANA Nº 3

 Vem aqui, amor, acorda,

Vem sonhar desta janela,

Vem sentir que a noite é doce,

Vem achar que a vida é bela.



Vê que a noite é tão deserta,

Mas não tem tristeza alguma.

Sente vir na brisa fresca

A mais leve poesia.



Vem, se achega e aqui me abraça,

Que eu me dou  num madrigal.

Vem voar deste planeta,

Numa nave de emoções.




QUEM TE OUVIU CANTAR

 Quem te ouviu cantar se fascinou

E se fez alma, se fez éter, comoção

E mergulhou, então, profundamente

Na quintessência angelical da tua voz.



Quem te ouviu cantar sei que voou

Andou nos céus, nos astros, sóis, cometas,

N'Estrela D'Alva, embevecido, recostou-se,

Extasiado de poder te ouvir cantar.


A VERDADEIRA PUTA (A CARTILHA DA PUTA)

 A verdadeira puta pode ser de qualquer sexo,

Não importa se ela é homem ou é mulher.

A verdadeira puta prostitui o seu sorriso,

Suas ideias, opiniões e os seu apoios.


A verdadeira puta se une a alguém por interesse

E está do lado de quem tem mais a oferecer.

A verdadeira puta não tem moral nem empatia, nem princípios

E desfila seus ternos ou vestidos refinados

No mundo da política, negócios e na mídia.


Já a mulher que vende o corpo não é puta:

Nosso respeito é o que merece pelo direito

Mais que sagrado que assiste a todo humano

De ter o ofício nunca nocivo, nunca nefasto

Que bem melhor e plenamente lhe convier.

 


TUPINIQUIM

 Sou brasileiro e não desisto nunca

E já nem lembro onde aprendi um clichê tão idiota.

Trabalho muito e ganho pouco porque assim, com muito orgulho,

Dou minha parte pr'ajudar a construir um Brasil muito melhor.

Quem não se sacrifica não acumula tesouros lá no Céu,

E, devoto, venero Deus no adesivo do meu carro

E, mais, sou patriota na minha camisa canarinho

E família com minha esposa e em   minhas idas ao bordel.

Sectário da ordem e disciplina,

Ligo o som do meu carro num volume insuportável,

Canto pneu porque pra mim é o próprio som da poesia.

Aos domingos doo o máximo à igreja

E deixo claro ser autêntico evangélico,

Embora acenda na segunda uma vela pro meu guia,

Já que preciso de proteção, de impunidade,

Se não resisto a promover uma briguinha,

A me envolver em falcatrua ou praticar a crueldade.



Ouve o som berrando aê, ó seus otários!

Ouve os fogos que estourei aê, ó seus manés!

Boto fogos e o som alto pra estourar,

Não vou deixar ninguém no bairro sossegar.





TÔ FORA II

 Vivo num  país que odeia os pobres,

Que odeiam os pobres

E as classes médias baixa e mediana,

Que por sua vez querem que morram pobres, médios baixos e do meio,

E assim se digladia a base da pirâmide,

Que zela pelos lá de cima como mães de tetas cheias.



E é por isso que não quero mais saber de nada

Senão a Netflix com seus filmes, suas séries enlatadas

E o saber,  sem mostrar qualquer opinião.

Quero também as canções que me comovem

E cultivar os meus amores como fosse um jardineiro.

E é por isso que no mais sou filho do Brasil que foge à luta,

Que tô fora de lutas, tô bem fora

E não dedico mais sequer uma linha do que escrevo

A querer tentar ajudar a mudar a conjuntura.



Eta, que versos mais danados de mal feitos!

Mas a gente mencionada é bem pior: deixa rolar!



Já nem penso nas coisas que abomino,

Assim como quem assiste ou lê "Os Miseráveis",

Sem no enredo querer tocar jamais.



Nada quero, nada espero, tô é fora,

Tô por fora, tô bem fora, tô bem longe,

Tô em Marte ou Bagdá.