ELA:
Meu rapaz é tão menino,
E eu passei da flor da idade;
Me rendi aos seus encantos,
Ele, ao saldo no meu banco.
Sou às vezes tão materna,
Ele, tão, mas tão meu filho,
Que me pede um dinheirão.
Eu lhe faço juras líricas,
Ele fala em casamento,
Em seguro, garantias,
Com seus pés firmes no chão.
Eu lhe conto histórias lindas,
Ele conta os meus ativos.
Eu planejo mil viagens,
Ele, mil investimentos.
Eu me pego tão criança
Em sonhar coisas românticas,
Eu o encontro tão adulto,
A falar em patrimônio.
Eu me nutro dos seus beijos,
Sou faminta do seu corpo,
Ele come a minha renda,
Tão voraz como um leão.
Eu me afundo em minhas dívidas,
A querê-lo eternamente,
Ele fica em suas dúvidas
De devermos prosseguir.
ELE:
Minha moça é tão bonita,
Tem a pele de veludo,
Somos unos, mas tão unos,
Que ela porta meus cartões.
Sou seu pai, mas tão seu pai,
Que ela vai até meus bolsos,
Retirando minhas notas,
Sai, me diz que volta logo
E só vem de manhã cedo,
Esgotada, embriagada,
Com aromas masculinos.
Eu lhe falo em vida eterna,
Ela lembra que é preciso
Que eu invista num jazigo
E lhe compre um bem imóvel.
Eu divago, meio tolo
Me sentindo principesco,
E ela diz que é necessário
Garantir o seu futuro.
Eu a faço inda mais bela,
Com vestidos, com ornatos
Que hoje fazem que me cheguem
Muitas cartas de cobrança.
Eu lhe conto meu desejo
De jamais nos separarmos,
Ela conta que no mundo
Nada pode ser eterno.
2013
"PÉS NO CHÃO E POESIA" tem esse título porque em primeira análise minha poesia é incrédula, mas reúne poemas que às vezes se antagonizam pelo fato de alguns se pejarem da crueza calcada na realidade dos dias, enquanto outros têm a doçura dos anseios da meninice, além dos que encaram a dureza do cotidiano num protesto contra ela ou mesmo numa linguagem lírica que tenta cobri-la com adorno poético. Acesse meu canal no Youtube: https://youtube.com/@demostenesbaraodamata880?si=l1cgAhBMX48XRGYU
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quarta-feira, 26 de junho de 2013
quarta-feira, 12 de junho de 2013
O BÊBADO ADORMECIDO
Quem é esse traste que dorme,
Que fede a fumo e cachaça,
Ressona no quarto sombrio,
Fechado e desarrumado?
É o mesmo poeta que há pouco
Cantava o sorriso da moça,
Dizia que a noite é um negrume
Tão bom de se poetar.
Quem é esse velho imprestável
Que rosna o que não se entende,
Enquanto rola na cama,
Num sono agitado de ébrio?
É aquele poeta que disse
Que a tarde é momento divino
De a vida dançar de alegria
E o peito buscar emoções.
Agora é o langanho que dorme,
Que atrai desprezo e chacota
O homem que traz sempre sonhos,
Que sente profundo no peito
As dores e o belo do mundo.
2013
Que fede a fumo e cachaça,
Ressona no quarto sombrio,
Fechado e desarrumado?
É o mesmo poeta que há pouco
Cantava o sorriso da moça,
Dizia que a noite é um negrume
Tão bom de se poetar.
Quem é esse velho imprestável
Que rosna o que não se entende,
Enquanto rola na cama,
Num sono agitado de ébrio?
É aquele poeta que disse
Que a tarde é momento divino
De a vida dançar de alegria
E o peito buscar emoções.
Agora é o langanho que dorme,
Que atrai desprezo e chacota
O homem que traz sempre sonhos,
Que sente profundo no peito
As dores e o belo do mundo.
2013
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