"PÉS NO CHÃO E POESIA" tem esse título porque em primeira análise minha poesia é incrédula, mas reúne poemas que às vezes se antagonizam pelo fato de alguns se pejarem da crueza calcada na realidade dos dias, enquanto outros têm a doçura dos anseios da meninice, além dos que encaram a dureza do cotidiano num protesto contra ela ou mesmo numa linguagem lírica que tenta cobri-la com adorno poético. Acesse meu canal no Youtube: https://youtube.com/@demostenesbaraodamata880?si=l1cgAhBMX48XRGYU
Pesquisar este blog
domingo, 16 de junho de 2019
BAIRRO PERIFÉRICO
O sol se pondo, a tarde morna,
os operários e suas mochilas.
Ladeiras, ruas, vilelas,
mulheres de curtos vestidos,
decotes protuberantes.
Crianças brincando em calçadas,
poema quente ao crepúsculo.
Os homens, mulheres chegando
e entrando em casas pequenas,
despindo as vestes suadas.
Vai caindo a noite, quase festiva.
Os homens apertam as mulheres,
e estas se dão, sequiosas.
Suor, o sêmen, os fluidos,
verão acendendo os desejos:
quão linda é a magia do sexo!
Conversas, os risos, as mesas,
a dança dos copos nos bares.
Tevês, novelas, notícias,
queixumes, atrito nas casas.
Existe a tensão n'alguns becos
onde homens suspeitos conversam
e quase nunca sorriem,
e o bairro lhes é como um servo.
A Lua, redonda, bonita,
reluz sobre as casas e bares,
prateia os telhados e muros,
atiça a alegria da gente
e é um canto lotado de vida.
sexta-feira, 17 de maio de 2019
A NOITE EM DUAS FACES
Vejo a noite da janela,
as mulheres caminhando
com seus trajes sedutores.
Eu, já velho, avisto a noite
como à lua tão distante.
Mas eu velho, mas que velho?
Que velhice que me assola?
Tenho pulsos, tenho anseios,
mas idade, não, jamais.
Quero a noite e seus pecados,
nessa noite me atirar.
Porém, sei que a noite é puta,
não a puta que eu respeito,
por querer ganhar seu pão.
Não, a noite é meliante,
é rameira perigosa,
é sereia e é valquíria,
é uma ninfa tão mortal...
Mas que importa, se ela é ninfa?
Pois com ninfas já vivi.
E livrei-me todavia
do feitiço inebriante
com que as pérfidas satânicas
me enlaçaram nos seus braços.
Mas também a noite pode
ser doçura comovida,
se alguns olhos nos seus entram,
traduzindo acordes brandos
e o vulcão do coração.
Da janela fito a noite,
que é feroz e que é serena,
meretriz afeita ao crime,
que é uma amante apaixonada.
Ai, a noite e suas faces,
qual moeda para apostas.
Ganho ou perco nesse jogo?
Mas que noite a que me espera?
Assinar:
Comentários (Atom)
O SENTIMENTO SUBLIME
O sentimento sublime que trago em meu meu candente é como se tudo florasse, se a aurora fosse constante e a noite, tão linda de estrelas, ...
-
Vem, mulher, pra mim, que eu te faço Uns versos tão mansinhos e cálidos, Que, mais do que musa, Vênus te sentirás. Vem pra mim por inte...
-
Quero fazer um poema que seja só não-amor. Que não seja canto, mas silêncio; que não seja perdão, mas ódio calado, velado e mudo. Qu...
-
Quero te fazer um poema co’a delicadeza de quem toca harpa, Co’a mansidão de quem dedilha violão. Quero versejar para ti assim como quem t...