Não creio em nada. Ou em quase nada. Não creio em Deus. Nos homens, muito menos. Não alimento ilusões e esperanças quanto às coisas à volta e ao mundo. Não vivo destilando alegria pelos quatro cantos do planeta. Sou um misantropo e não cultuo deuses nem homens. Mas me embeveço quando de manhã olho pra fora da janela do meu quarto e vejo a árvore florada e repleta de vida, uma pequena mostra do quanto a Natureza é sublime, que contrasta com a rua pavimentada e quase totalmente desprovida de verde. Beija-flores, besouros, percevejos. Às vezes mariposas entram de madrugada, e tenho de acender alguma luz para que elas se aquietem. Uma vez entraram dois beija-flores por volta das três da manhã, e precisei apagar as luzes para deixarem de se bater e não se ferirem. Na primeira claridade abri as bandeiras porque não souberam sair pela janela aberta. A Natureza, os bichos: este é meu culto, meu alumbramento, minha crença absoluta. Eu creio na vida, nos animais, nos besouros, nas árvores e plantas e me me irmano com eles, e a simples vista de tais criaturas me traz uma paz de nirvana, me faz contente com a própria existência, me faz encantado, enlevado e feliz.
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