segunda-feira, 12 de abril de 2021

A MORTE DA POESIA II

 

A poesia está morta, morta como nunca se viu, 

Esmagada pelo afã da luta dos homens

Por um lugar ao sol ou por motivos torpes,

Trucidada pelo pragmatismo do mundo sem lira

E a pandemia que assola o planeta e sobretudo o Brasil.


Não há mais seresteiro emocionado

A cantar seus lamentos de amor.

Não há mais violeiros nas ruas 

Dedilhando serenatas ao luar.


Não mais o navio a partir 

Sob o pranto de uma amada no cais. 

Não há mais ternura nos olhos

Dos amantes numa mesa de bar.


Não há mais brincadeiras de roda,

Nem meninos brincando de heróis.

Não há mais a quimera bonita

Nos projetos juvenis sem juízo.


Nem há mais o olhar de tristeza

De poetas piegas em versos

A lamuriar suas dores de amor.

Não há mais silêncio noturno

A encher as almas de suave canção.


E agora, poetas, calamos?

Se a poesia ficou anacrônica, 

Partimos então para a crônica?

Ou fazemos estrofes sem vida,

Sem lira, sem cor e sem dor?


Barão da Mata



[Apenas um aviso aos críticos de plantão: "morta como nunca se viu" é apenas um realce da expressão, pois morte é morte, e não há como algo estar menos ou mais morto, ou menos ou mais intensamente morto]



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