sábado, 24 de abril de 2021

AQUELA QUE ME REPUDIOU

 Aquela que repudiou há de estar muito longe,

A milhões de anos-luz da minha cidade,

No Paleolítico ou incontáveis  milênios à frente,

Mas equidistante no espaço e no tempo,

Num ponto inacessível de nenhum corpo poder alcançá-la.


Aquela que me repudiou há de estar tão inatingivelmente distante,

De sequer a memória poder encontrá-la

E o arranhão do meu coração cicatrizar-se de todo.


Há de estar em mim tão morta, remota, esquecida,

Que, se um dia avistá-la, eu apenas me diga:

Quem será essa criatura cinzenta,

Tão sem cor e sem luz e sem graça,

Que os olhos  cansaram do breve segundo que a  fiquei a fitar?


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