Na noite de surpreendente chuva as ruas se fizeram desertas
[subitamente.
Poucas vivas almas circulam, fugidias e apressadas,
e o meu peito, ávido de vida, teve de guardar dentro de si
uma ebulição da imensidade de uma gigantesca cachoeira.
Eu queria ir às ruas e buscar a vida, mergulhar na vida
com a voracidade sem virtude dos inveterados pecadores.
Queria que Dionísio cantasse com sua voz licenciosa
os louvores mais sonoros às orgias desmedidas.
Queria que as ninfas formassem um coral febril, luxuriante,
e, lascivas, dançassem e se despissem entre cantigas sensuais.
Que se entregassem sobre mesas de bodegas
a nós, homens, caçadores de emoções.
Mas as ruas estão desertas, e Dioníso dorme no Olimpo,
talvez em ressaca e no recesso de um dia de pecado.
As ninfas devem estar adormecidas nas matas, bêbadas e nuas,
ressonando no cansaço de horas mortas de esbórnia e de risadas.
O meu peito faz que está calado, mas dentro dele há o enorme estrondo
da queda das águas densas sobre o rio caudaloso.
Tão silente a noite, e minh'alma sequiosa de vida, transgressão e liberdade,
de cores e de brilhos, dança, de aventuras e de risos,
vai-se pouco a pouco acinzentando, até se enegrecer tal como a noite
e também se entristecer, se aquietar e, frustrada, também silenciar,
2010
"PÉS NO CHÃO E POESIA" tem esse título porque em primeira análise minha poesia é incrédula, mas reúne poemas que às vezes se antagonizam pelo fato de alguns se pejarem da crueza calcada na realidade dos dias, enquanto outros têm a doçura dos anseios da meninice, além dos que encaram a dureza do cotidiano num protesto contra ela ou mesmo numa linguagem lírica que tenta cobri-la com adorno poético. Acesse meu canal no Youtube: https://youtube.com/@demostenesbaraodamata880?si=l1cgAhBMX48XRGYU
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sábado, 6 de março de 2010
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