domingo, 30 de janeiro de 2011

CACOS

É tão viva esta lembrança
Dos heróis de voz armados,
Professando um não sonoro
E brandindo o violão.

Nós sentávamos nos bares,
Encantados com seu canto,
Discutindo os rumos pátrios,
Encharcados de bebida
E a sonhar um tempo novo
De progresso e de justiça.

Nós falávamos de música,
De poetas, prosadores,
Dos heróis de tempos outros,
Das mulheres e do mundo,
De questões inquietantes,
E nos víamos nos rostos
Certas luzes de esperança.

Hoje eu sei que o novo tempo
Nunca vimos ou veremos.
Todos nós nos dispersamos,
E os rebeldes de hoje em dia
Não têm causa ou cabimento.
Mesmo os bares já não pensam,
E eu fiquei por longos anos
A tentar juntar debalde
Cacos ínfimos, dispersos
De um tempo irretomável.

2011

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