domingo, 30 de setembro de 2007

APARECIDA


Aparecida,
minha querida,
é tão pura,
é criatura
tão sem maldade,
que na cidade
é desfrutada
pela moçada
pulha, anarquista,
qual nunca vista.

Trimestralmente,
sofregamente,
cá de Antonina
vou a Medina
ver a menina
tão pequenina
nos seus enganos,
seus vinte anos.
Quando lá chego,
eu me aconchego
nessas belezas
que a malvadeza
já conhecida
dos casticidas
deixa marcadas,
escoriadas,
porque a coitada,
dócil pureza,
tão indefesa,
não tem firmeza
pra dizer não.

Aparecida,
desprotegida,
tão acanhada...
quando flagrada
com o padeiro
e um motoqueiro,
frágil mimosa,
de tão nervosa,
me apontou,
riu e gozou.

Mando dinheiro
o ano inteiro:
pro seu Natal,
pro Carnaval,
nosso enxoval,
que vai bem mal,
que não tem mais
que dois dedais:
um vagabundo
nauseabundo,
rei da torpeza,
chora pobreza
e essa tolinha
já o acarinha
e, em caridade,
pura bondade
que se exacerba,
repassa a verba
àquele verme.

Muito apanhei,
bati, briguei,
fiz muita cena:
valeu a pena:
tenho a pequena,
assim tão pura,
oito fraturas
que não são nada
se comparadas
com a firmeza
desta certeza
que ela me ama,
meu nome chama,
mesmo na cama
de um vil qualquer.

Mas Deus é pai
--não digo um ai:
minha criança
-- tenho esperanças --
um dia cresce,
amadurece,
pr'esses carrascos
olha com asco
e, assim, amigo,
parte comigo,
moça casada
mui respeitada
-- não concubina! --
para Antonina.