Venho pelas ruas , paro um instante numa praça,
Fico a mirar a estátua erguida a um calhorda:
Tanto busto, tanta estátua... tanta homenagem a tanto calhorda.
Tanta gente cultuando tantos gélidos assassinos,
Que mataram tanta gente, devastaram tanta coisa
Por ganância e sordidez.
Tantas palmas tantos batem aos discursos de tantos patifes,
Que decidem nossos rumos, nos condenam à pobreza,
À miséria, ao infortúnio, à tristeza e aos infernos.
São canalhas travestidos de reis da magnitude;
Atos banais transformados em façanhas as mais elevadas;
Sacanagens mascaradas de atos da mais alta grandeza.
Olho a estátua com olhos incrédulos e expressão cansada,
Porém, um assombro vem a mim quando constato:
Deus, como são longas as pernas da mentira!
1994
Revisto e modificado em 2017