Os deuses da mata agonizam,
aniquilados por gringas missões.
O jeito de viver a vida
é já diferente do de viver na mata.
O olho de ver o mundo
já foi trocado pelo olho impingido
da civilização.
Índio pilotando escavadeira,
tombando a mata,
já nem conhecendo língua de índio.
O Kuarup virando
atração de tevê.
Madakalá posou nua pra revista,
de adereços dourados e batom carmim:
Madakalá erótica,
sofisticada.
Jandaia montou uma termas
e transa com todos
os brancos que chegam:
Jandaia aidética,
sifilítica.
Jakalo já trocou a moto
por outra mais possante
e vive a mil por hora:
Jakalo piloto
malucão!
Paru montou uma boate
que toca o bolero,
o rock, o jazz:
Paru dono das noites
do Xingu.
Yakuí constrói edifícios
com playground, piscina,
com quadra e sauna:
Yakuí construtor,
capitalista.
Mas o Peri virou assaltante,
vive às tocaias,
todo sorrateiro,
com seu trinta-e-oito.
Peri facínora,
meliante.
E o Karuta lê Drummond, Veríssimo,
Machado, Bilac
e os grandes clássicos,
e fala inglês,
francês, espanhol
e mais outras línguas:
Karuta ilustrado,
poliglota.
Os deuses da mata
em pleno ocaso,
as missões de Cristo
fazendo o diabo;
a turma de Brasília
e os poderosos...
essa gente toda
engolindo os deuses,
engolindo os índios
com a voracidade
de bestas famintas.
1989
"PÉS NO CHÃO E POESIA" tem esse título porque em primeira análise minha poesia é incrédula, mas reúne poemas que às vezes se antagonizam pelo fato de alguns se pejarem da crueza calcada na realidade dos dias, enquanto outros têm a doçura dos anseios da meninice, além dos que encaram a dureza do cotidiano num protesto contra ela ou mesmo numa linguagem lírica que tenta cobri-la com adorno poético. Acesse meu canal no Youtube: https://youtube.com/@demostenesbaraodamata880?si=l1cgAhBMX48XRGYU
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domingo, 30 de setembro de 2007
O SENTIMENTO SUBLIME
O sentimento sublime que trago em meu meu candente é como se tudo florasse, se a aurora fosse constante e a noite, tão linda de estrelas, ...
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Vem, mulher, pra mim, que eu te faço Uns versos tão mansinhos e cálidos, Que, mais do que musa, Vênus te sentirás. Vem pra mim por inte...
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Quero fazer um poema que seja só não-amor. Que não seja canto, mas silêncio; que não seja perdão, mas ódio calado, velado e mudo. Qu...
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Quero te fazer um poema co’a delicadeza de quem toca harpa, Co’a mansidão de quem dedilha violão. Quero versejar para ti assim como quem t...