Em guri, neguim de morro,
Eu vivia a tomar bolas
Dos guris de lá do asfalto
E a levar e dar porradas.
Empurrei carrim de feira
E sonhava ser um craque,
Afanava nos mercados
E sonhava a seleção.
Pela minha adolescência,
Ouvi que era um negro lindo
E quis ser galã da Globo
Ou, então, um gigolô.
Hoje, aos vinte e cinco anos,
Tenho mais de três ofícios,
Mas componho alguns pagodes:
Quero mesmo é ser artista!
Fui servente de pedreiro,
Trabalhei já de mecânico,
Tive muitas profissões,
Mas nem todas tão honestas.
Fui porteiro, vigilante,
Camelô, pintor, garçon,
Já fui cabo-eleitoral:
O que eu quero é ficar vivo.
Já rezei pra todo santo,
Me enfiei entre evangélicos,
Pus despachos nas esquinas,
A pedir vida de gente.
Já fiz parte de uma greve,
Já votei nesses sujeitos.
O que eu quero não é muito:
É levar vida de gente.
Quando sem querer meus olhos
Dão co'os olhos tão opacos
E tristonhos dos meus entes,
Já não sei mais o que quero
Ou se mesmo quero algo:
No sem-vida dos seus rostos
Eu enxergo o que é real,
Vejo morto qualquer sonho,
Qualquer fio de esperança.
1995
"PÉS NO CHÃO E POESIA" tem esse título porque em primeira análise minha poesia é incrédula, mas reúne poemas que às vezes se antagonizam pelo fato de alguns se pejarem da crueza calcada na realidade dos dias, enquanto outros têm a doçura dos anseios da meninice, além dos que encaram a dureza do cotidiano num protesto contra ela ou mesmo numa linguagem lírica que tenta cobri-la com adorno poético. Acesse meu canal no Youtube: https://youtube.com/@demostenesbaraodamata880?si=l1cgAhBMX48XRGYU
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domingo, 30 de setembro de 2007
O SENTIMENTO SUBLIME
O sentimento sublime que trago em meu meu candente é como se tudo florasse, se a aurora fosse constante e a noite, tão linda de estrelas, ...
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Vem, mulher, pra mim, que eu te faço Uns versos tão mansinhos e cálidos, Que, mais do que musa, Vênus te sentirás. Vem pra mim por inte...
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Quero fazer um poema que seja só não-amor. Que não seja canto, mas silêncio; que não seja perdão, mas ódio calado, velado e mudo. Qu...
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Quero te fazer um poema co’a delicadeza de quem toca harpa, Co’a mansidão de quem dedilha violão. Quero versejar para ti assim como quem t...