Desolada essa paisagem:
é o mangue negro e podre,
os casebres de madeira
com remendos e cupins.
É o choro dos lactentes,
é a fome, o desespero,
é a morte e é a doença,
as vorazes ratazanas.
São os rostos sem esperança,
as crianças que não sonham,
as navalhas dos meninos,
que adolescem odientos,
cujos peitos petrificam.
É essa gente favelada,
tão sozinha, abandonada,
renegada, espezinhada,
ao inferno condenada.
Que poema é então possível
sobre toda essa miséria,
o infortúnio que consterna,
esse inferno que revolta?
1994