Os braços dos homens erguem instrumentos:
Pás, enxadas, marretas, picaretas,
Ancinhos, foices, tesourões e talhadeiras.
Os braços morenos erguem ferramentas;
Os braços retintos erguem ferramentas;
Os braços mulatos erguem ferramentas;
Os braços brancos já se amorenaram.
O sol é perverso como torturasse;
Os corpos suados brilham sob o sol perverso;
Os corpos reluzem no dia infernal de quente.
Em algumas mentes brincam sonhos;
Em algumas mentes, rostos de amadas;
Em algumas mentes, nada mais que o dia-a-dia
-- Com sua rudeza, com sua crueza – e o medo do amanhã.
De algumas bocas ouvem-se canções;
De algumas bocas ouvem-se galhofas;
De algumas bocas ouvem-se queixumes;
E de outras bocas, nada mais que histórias,
E de ainda outras, doces ilusões.
Os corpos suados, o sol implacável.
Ferramentas sobre a terra, baque surdo soa;
Ferramentas ao cimento, baque seco soa;
Ferramentas sobre o ferro, soa som metálico.
Ferramentas, homens, músculos, suor.
São os homens no trabalho, pro trabalho,
Do trabalho, são os homens num poema
De poeira, sol e terra, de cimento,
Ferro e pedra, braços fortes, sem lirismo,
Mas que canta desse jeito a própria vida.
1994
"PÉS NO CHÃO E POESIA" tem esse título porque em primeira análise minha poesia é incrédula, mas reúne poemas que às vezes se antagonizam pelo fato de alguns se pejarem da crueza calcada na realidade dos dias, enquanto outros têm a doçura dos anseios da meninice, além dos que encaram a dureza do cotidiano num protesto contra ela ou mesmo numa linguagem lírica que tenta cobri-la com adorno poético. Acesse meu canal no Youtube: https://youtube.com/@demostenesbaraodamata880?si=l1cgAhBMX48XRGYU
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